Em 1958, Ella Fitzgerald gravou um dos mais aclamados discos de uma obra igualmente aclamada, com um repertório dedicado ao songbook de Irving Berlin. Ganhou com ele um prêmio Grammy de melhor performance vocal feminina. O álbum foi considerado, quase por unanimidade, o melhor do ano. Poucos meses depois, Ella fez um show no Hollywood Bowl cantando Irving Berlin. Foi seu único concerto cantando apenas um autor. E ela gravou vários discos dedicados a outros compositores, como Cole Porter ou George Gershwin.
Um concerto, superelogiado, em que Ella canta com a orquestra de Paul Weston (que também assina os arranjos). Pensava-se que teria ficado apenas na memória dos privilegiados que o assistiram. Porém, a gravação do show foi preservada num tape encontrado no acervo de Norman Granz (1908/2001) empresário musical e produtor de discos, fundador da gravadora Verve. Com uma qualidade de som impecável, chegou às lojas, e plataformas digitais, nesta sexta-feira, 25 de junho, o álbum Ella Fitzgerald Live at The Hollywood Bowl: The Irving Berlin Songbook (Verve).
São 15 canções, clássicos de um dos mais talentosos compositores da música popular do século 20, russo, naturalizado americano, Irving Berlin (Israel Isidore Baline, 1888/1989), ironicamente é autor God Blessed America, um segundo hino dos EUA, que não está neste álbum. Estão canções bem conhecidas, Alexander’s Ragtime Band, que fecha o repertório, Putting on The Ritz, Cheek to Cheek, Supper Time, ou How Deep Is The Ocean.
Se o tape, com mais de seis décadas foi encontrado com ótima qualidade sonora, ainda passou por um reforço no estúdio, e chega ao disco perfeita. Ella, falecida há 26 anos, soa como se estivesse em gravações recentes. Foi a primeira vez em que ela cantou com a orquestra de Paul Weston, mas parece que a parceria é antiga. Elogios à voz de Elle Fitzgerald dificilmente escapam à redundância. É potente, de uma maleabilidade que lhe permite fazer o que bem entende: do scat, um instrumento guiando os demais instrumentistas, Ella imprime emoção às baladas, e dinâmica às canções mais aceleradas.
Granz
Até então, nenhum intérprete de jazz tinha cantado o repertório de um único álbum ao vivo, o que só seria uma tendência nos últimos dez ou 15 anos deste século. Certamente foi uma decisão dela com Norman Granz, que dirigiu a carreira da cantora a partir de 1956, quando conseguiu com que a Decca liberasse a cantora, que se sentia desprestigiada naquela gravadora. Dai em diante ela seria produzida por Granz, tanto na Verve quanto na Pablo (outro selo dele). Era uma ligação de confiança, não havia contrato assinado entre eles. Valia a palavra.
É provável que este tape tenha vindo à tona como uma homenagem ao Hollywood Bowl. O anfiteatro completa cem anos em 2022, e foi palco de vários shows de Ella Fitzgerald, nessa época mais habituada a clube e hotéis, ambientes mais intimistas.
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