Cartola tem lançado, nas plataformas, disco obscuro, gravado em 1964, pela Rozenblit.

Angenor de Oliveira, ou melhor, Cartola (1908/1980), está nos livros de história da MPB, gravou pela primeira vez num disco coletivo, de 1968,  Fala Mangueira (Odeon), no qual canta duas faixas. Álbum dividido com Carlos Cachaça, Clementina de Jesus, Nelson Cavaquinho e Odete Amaral. Só teria direito a um LP solo em 1974, aos 66 anosa, pela Marcus Pereira.

Mas não foi bem assim, ratifica Hélio Rozenblit, que administra o catálogo da gravadora fundada pelo pai dele, em 1953, pertencente à Somax, empresa, que adquiriu os direitos sobre acervo da extinta Fábrica de Discos Rozenblit. Pousou nesta sexta-feira, 8 de julho, nos aplicativos de música digital, o compacto duplo ( o que hoje se chama de EP), O Divino Cartola, preciosidade obscura, com quatro faixas cantadas por Cartola, com a Escola de Samba do Almeidinha, com selo Mocambo, o principal da gravadora recifense.

Um dos fundadores da Estação Primeira da Mangueira, um dos bambas do samba do morro, desde fins dos anos 20, gravado por astros do início da era do rádio (aos quais vendeu muita composição), Cartola, boêmio inveterado, afundou na cachaça e sumiu nos anos 40. Pensava-se até que havia morrido. Em 1957, foi descoberto pelo jornalista Sergio Porto, lavando carros numa garagem em Ipanema.

Muita gente procurou ajudar Cartola, então com 49 anos. Nenhuma gravadora se interessou em contratá-lo. Seu admiradores recorrer ao jeitinho brasileiro, ou seja, tentaram descolar um emprego pra ele. Mas Angenor de Oliveira foi claro. Estava muito velho, não queria trabalho, e sim um emprego. Foi indicado para vários, na maioria não foi aceito, porque ia biritado falar com o futuro chefe. Em 1964, com ajuda dos amigos de Cartola, surgiu o restaurante, e casa de sambas, Zicartola (junção do nome dele com o da esposa, Dona Zica).

A badalação da casa serviu como um grande impulso para o samba carioca. Compositores de escolas, do morro, passaram a ser mais requisitados, contratados para gravar, casos de Zé Kéti e Nelson Cavaquinho. Nara Leão gravou um disco inteiro com a música desses sambistas. No final de dezembro de 1964, foi lançado o compacto duplo O Divino Cartola. O “Divino” lhe foi dado pelo crítico de música Lúcio Rangel (tio do citado Sergio Porto). A Rozenblit até então tinha filiais no Rio, São Paulo e Porto Alegre. A título de curiosidade, João Araújo, depois conhecido como o “pai de Cazuza”, que dirigiu a RGE e a Som Livre, esteve um tempo à frente da Rozenblit carioca.

Cartola gravou, com o grupo Escola de Samba do Almeidinha (o compositor Anibal Alves de Almeida). O repertório: O Sol Nascerá (Cartola/Elton Medeiros), Não Quebre Meu Tamborim (José Caldas/J.R de Oliveira), Bobagem (Almeidinha), Amor Proibido (Cartola). As informações técnicas são precárias (como era praxe na época). O texto da contracapa, assinado pelo crítico Sérgio Cabral (pai do desditado ex-governador do Rio), joga muito confete em Cartola, mas diz pouco do disco. Na mesma contracapa sabe-se que a produção artística foi do compositor Henrique Hazan, e a produção musical de Renato de Oliveira, a capa é de Max Sache.

Só por tirar do ineditismo os clássicos O Sol Nascerá e Amor Proibido, este disco da Rozenblit/Mocambo já seria histórico. Mas ele promove também a estreia de Cartola como cantor: “Surpreendeu-nos favoravelmente a voz de Cartola, e até não o reconhecemos quando ouvimos o disco pela primeira vez”, escreveu o jornalista Mário Ivan numa análise de O Divino Cartola. Ivan tira por menos a qualidade sonora do compacto, que enfatiza o violão, e deixa lá atrás a percussão. Felizmente, a voz de Cartola está bem colocada. Vale para este relançamento, o que o jornalista escreveu no final da análise do disco em 31de dezembro de 1964: “Está pois a Rozenblit de parabéns, pelo ótimo presente”.  

”.  

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