Tem música tão marcante que a criatura não consegue esquecer a primeira vez que a escutou. I Want to Hold Your Hand, eu me lembro, foi em 1965, eu tava lendo na varanda da casa do meu avô, em Campina Grande, aos primeiros acordes, parei e me perguntei: “Que goitana é isto?”. Era um compacto, que Crisna, um tio meu, pediu emprestado. Nunca tinha ouvido nada tão barulhento, e cativante.
Outra que parece que ouvi ontem pela primeira vez, Sultans of Swing, a gente ia pra Madalena de carro. Eu, Miranda, Expedito, que são irmãos, Ném, a irmã deles, dirigia o carrão, um Corcel. O rádio ligado, de repente irrompe o solo de guitarra encorpado e melodioso, que dura 13 minutos até entrar o vocalista. Ninguém sabia quem era. Bob Dylan? Lou Reed? Quem lá sabia sobre Dire Straits?
Isto foi em 1977, nesse mesmo ano, fui a Salvador pela primeira vez. Fiquei na casa de uma tia na Barra. Uma manhã descia uma rua enladeirada rumo à praia, e Moraes Moreira passou por mim, a pé, só de sunga, magro que só um imigrante de Portinari. Mais adiante entrou numa loja de discos, entrei também. Era superfã de Os Novos Baianos. Assim que adentrei o recinto, o cara da loja botou um LP pra rodar na radiola. Assim que começou a música foi um choque. O som do cara era bom, e ele encarcou no volume. Moraes foi embora, e eu nem notei.
A música era We Will Rock You, do Queen. Que começou a escutá-la depois do megassucesso da cinebio De Freddie Mercury, Bohemian Rhapsody, talvez tenha sentido a mesma sensação que eu. Pra mim foi feito I Want to Hold Your Hand anos atrás. Mas o tempo passou, o tempo voou, e aí descubro que We Will Rock, na verdade, é de uma dupla sertaneja, Edson e Hudson. Vivendo e aprendendo.
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