A MTV marcou época no Brasil. Chegou por aqui quando uma nova perspectiva musical desenvolvia-se por aqui, feito o manguebeat, em Pernambuco, e uma nova guarda rendia a velha guarda dos anos 80: Pato Fu, O Rappa, Skank, Planet Hemp. E grande elenco. Entre as novidades da MTV estava o/a VJ, que apresentava os programas. Entre os VJs da emissora um dos mais populares era Luís Thunderbird (foto: André Peniche), que quebrava regras da TV, com uma dicção que atropelava as palavras, compensada com carisma e bom humor. Como sempre age quando surge alguém numa concorrente com boa audiência, a Globo contratou o VJ Thunderbird. Não fazia o perfil da emissora. Entrou em 199e saiu no ano seguinte, voltando à MTV. A trajetória de Thunderbird na TV brasileira, acrescida de sua carreira musical, sexo, droga e rock and roll ele contou, sem dourar a pílula, na autobiografia Contos de Thunderbird (Globo Livros).
Luiz Thunderbird formou várias bandas, A Devotos de Nossa Senhora de Aparecida, foi a mais conhecida, certamente pela presença do vocalista na MTV. O grupo continua, e promete disco celebrando as 35 primaveras. A música sempre trafegou paralela ao trabalho jornalístico (atualmente Thunderbird é youtuber e podcaster), mas somente nesse mês de junho de 2022, ele lançou o primeiro disco solo, Pequena Minoria de Vândalos (Freak/Trattore). Um disco de puro rock soa estranho nos tempos atuais, em que a música pop segue tendências as mais variadas, que mudam com frequência.
A música deste disco traz sonoridades de um passado não tão distante, mas já meio esquecido, o pós-punk dos anos 80, com o pop new wave nova-iorquino de final dos 70, e ecos de Velvet Underground, de punk jazz, disco punk, grande conhecedor dos vãos e desvãos do rock, Thunderbird traz ao disco os sons que lhe vêm à cabeça.
O repertório é aberto com A Obra, regravação de um música do Sexo Explícito, grupo dos anos 80, de que participava John Ulhoa, da Pato Fu. Aqui numa versão diferente, inspirada na James Chancer and The Contortions, da cena no wave de NYC, (com o baixão de Gustavo Boni – Patife Band – pulsando acima dos demais instrumentos). Há ecos de bandas ótimas hoje obscuras, feito a.
Grande conhecedor das dos vãos e desvãos do rock, Thunderbird traz para o álbum solo também o punk jazz, avant funk, disco punk, e outras vertentes. As guitarras são barulhentas com muitos timbres ao longo do disco, os vocais são rascantes, as letras incisivas em canções como Protesto, Bike (parceria com Odair José, que participa da faixa), Insuportável, ou Ética, que tem muito a ver tanto com os tempos atuais, como com o próprio país: “Ética, ética, ética/eu sou honesto/ eu vendo ética/fique tranquilo e durma bem/consciência vem também/você é do bem/outro é do mal”. O disco fecha com o instrumental Serra do Mar, narração sonora de uma viagem de bicicleta da capital paulista até o litoral.
Nas nove faixas do álbum, Thunderbird mantém-se fiel ao seu estilo anárquico, que sem concessões. A banda base de Pequena Minoria de Vândalos: Thunderbird (guitarra, vocal, percussão, e efeitos), o citado Gustavo Boni (baixo), Caio Lopes (bateria), Rafael “Chicão” Montorfano (teclados) Daniel Brita (guitarra, trombone e trompete).
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