Elvis, a cinebiografia do Rei do Rock, trará de volta a relevância que o cantor já teve?

Telestoques – Elvis o filme

Gosto de documentário biográficos, e tenho um pé atrás com cinebiografias. Quase todas que vi têm roteiros conduzidos mais para emocionar a plateia, do que para mostrar o que o biografado realmente foi. Boa parte abrem-se para liberdades “históricas”. Um dos melhores exemplos é o incensado Luiz Gonzaga: de Pai pra Filho, de Breno Silveira, de 2012. A cena em que ele chega em casa de madrugada, na primeira visita à família depois de anos, aconteceu daquela forma apenas na fala que Gonzagão intercala em Respeita Januário (Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira).

As cinebiografias são importantes para a indústria cultural. Na última década foram produzidas muitas delas, por conta do megassucesso de bilheteria de Bohemian Rhapsody (2013), a cinebio de Freddie Mercury, dirigida por Bryan Singer e Dexter Fletcher. O filme foi tão bem engendrado que motivou um revival do Queen, o grupo de que Freddie Mercury foi vocalista. Pessoas que mal sabiam do grupo correram às plataformas de música. A canção que dá título ao filme rompeu a barreira  do bilhão de plays, os discos entraram para a lista dos mais vendidos novamente.

Elvis, a cinebiografia dirigida por Baz Luhrmann, recebeu o foco da mídia americana, e do resto do planeta. Coincidentemente, quando soube do filme, li um artigo do jornalista e escritor Will Leitch, intitulado “Ninguém se Interessa Mais por Elvis”. O texto abre com a constatação: “Meus filhos não têm ideia de quem é Elvis”. Leitch nasceu dois anos antes da morte do cantor. Ele comenta que cresceu com a imagem do Rei do Rock em revistas, TV, vídeos. Escutava a música em várias trilhas sonoras. Mas nos últimos anos Elvis foi saindo de cartaz. Provavelmente, pondera, porque o próprio rock and roll perdeu considerável influência cultural nos últimos dez anos.

E enfatiza a atuação do tempo. Se vivo fosse (e muitos acham que continua vivo, e na Argentina), Elvis Aaron Presley teria completado 87 anos em 8 de janeiro. Esta é, mais ou menos, a mesma idade das suas plateias quando ele começou a carreira em 1954, a sua fase mais elogiada, e histórica. Os que assistiram à série interminável de filmes açucarados dos anos 60, e viram o memorável show de TV em dezembro de 1968, que marcou sua volta, estão bem entrados nos 70. Enquanto a geração que desdenhou o Elvis de macacão cravejado de brilhantes nos anos 70, têm em media 65 anos. O mercado da música é movimentado basicamente por gente jovem. Para este consumidor, Elvis é tão irrelevante quando Bing Crosby (nascido há 119 anos) e Frank Sinatra (veio ao mundo há 107 anos), dois superastros da música (e do cinema), antes do roqueiro.

“Quando se é jovem o interesse gira em torno de coisas de jovens. Quando se envelhece, coisas do seu tempo. Gente idosa morre, geralmente, antes de gente jovem. Isto torna as coisas antigas menos irrelevante a cada ano”, afirma Will Leitcher, ou seja, como se diz por aí (se não caiu de uso), simples assim.

É ver se a cinebiografia assinada por um diretor respeitado, alavanca a figura gigante de Elvis Presley, que revolucionou a música popular do século 20, o mercado do show business, a indústria do disco, fez alguns amigos e influenciou milhares de futuros músicos, e acabou refém do próprio sucesso. Um produto muito rentável. A RCA, sua gravadora desde meados dos anos 50, vendeu cerca de 200 milhões de discos. E continua vendendo, atualmente com selo da Sony Music (que detém o catálogo da RCA). O filme de Baz Luhrmann surtirá o mesmo efeito em relação a Elvis, que surtiu Bohemian Rhapsody em relação ao Queen?

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