Naná Vasconcelos completaria 78 anos, nesta terça-feira, 2 de agosto. De Nova Iorque, onde mora com a filha Luz Morena, sua mulher, Patricia Vasconcelos, pediu, pelo Instagram, que se fizessem postagens sobre Naná para marcar mais um aniversário de um dos mais importantes músicos que o Brasil já teve.
Entrevistei Naná pela primeira vez em 1990, no apartamento em que morava em Chelsea, Nova Iorque. Depois que voltou a morar no Recife, perdi a conta de quantas vezes o entrevistei. Ficamos amigos. Ele morou um tempo em Boa Viagem enquanto reformava um casarão que comprou no Rosarinho. De manhã cedo, a gente se encontrava na praia, ali na altura do edifício Holiday, pra jogar conversa fora, com Zé da Flauta, Paulinho da Macedônia e eventuais amigos. Só se falava abobrinha.
Numa das visitas à sua casa, a do Rosarinho, ele me presenteou com o álbum Africadeus, (subintitulado O Repercutir da Música Negra). Foi o disco de estreia de Naná, em 1972, gravado na França, finalmente lançado no Brasil, quando completava 30 anos, numa edição CD/livro (Funarte/Harmonipan). Um trabalho seminal, em que ele faz uma imersão na música que nos foi legada pelos africanos, e que ele considerava a espinha dorsal da música brasileira.
Africadeus teve uma tiragem pequena, distribuída em escolas. Felizmente, e infelizmente. O livro (poucas páginas) que complementa o disco, é bem intencionado mais pontuado por erros de revisão, e de informações. Sobretudo na biografia resumida. Alguns. Naná começou a tocar berimbau quando participou do musical Memória de Dois Cantadores, com Marcelo Melo (Quinteto Violado), Teca Calazans e Edi Souza (depois Edy Star), e não em Memórias de Outros Cantores, como está no texto. O musical é de1967, não 1966.
Naná foi para o Rio, em 1968 (e não em 1966, conforme está no texto), com Edy Star, para defender uma composição de Capiba, Dia Cheio de Ogum, no festival O Brasil Canta no Rio. Capiba bancou as passagens. Na Banda Municipal do Recife foi baterista, não ainda percussionista. Tampouco fez turnê nordestina com Gilberto Gil, em 1967, quando este veio fazer uma temporada, de quase um mês, no Recife, para lançar Louvação, o LP de estreia. O baterista do grupo que tocou com Gil foi Luciano Pimentel, (depois da formação original do Quinteto Violado). Também não passou dois anos na Europa com o Yansã Quarteto, grupo pernambucano.
O quarteto foi se apresentar em Lisboa, mas só permaneceu lá o tempo suficiente para gravar três compactos com Agostinho dos Santos, depois reunidos num LP, lançado pela Rozenblit. Foram estas gravações que, no citado texto, seria um disco de Naná em dialetos angolanos. As canções, quase todas, são de autores de Angola, algumas cantadas em dialetos do país, mas por Agostinho.
Felizmente, Africadeus, a estreia solo de Naná Vasconcelos está para se materializar pelo selo alemão Altercat. O álbum foi gravado, em Paris, há 50 anos, pela gravadora Saravah, de Pierre Barouh. Há cinco anos que a Altercat tentava a liberação do álbum. Já Amazonas, o segundo LP de Naná (de 1973), tem probabilidade de ser reeditado pela Universal Music.
Naná sabia da dimensão da sua obra, mas sabia também que ela chegava a poucos brasileiros. Em Pernambuco tornou-se mais conhecido pela abertura do Carnaval do Recife, em que regia diversas nações de maracatu, levando-as a deixarem de lado rivalidades seculares. Sobre o descaso com sua música, e o que ele representava, cravou uma frase lapidar: “Eu sou o Brasil que o Brasil não conhece”.
Foto: a capa do disco/livro Africadeus, edição brasileira, que se tornou item de colecionador).
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