Claudionor Germano, um dos mais importantes cantores da história da música popular brasileira completa nesta quarta-feira oficialmente 90 anos. O “oficialmente”, porque ele nasceu em 19 de abril de 1932, mas o pai dele, seu José Germano, só o registrou em 10 de agosto. No registro a data de nascimento ficou como no mesmo dia do registro. Claudionor tem, pois, o privilégio de aniversariar duas vezes.
Até 1959, era um dos mais conhecidos e premiados intérpretes do rádio pernambucano, com voz de timbre inconfundível. Aliás, neste 2022 ele completa 75 anos de carreira. Contados a partir da contratação pela Rádio Clube de Pernambuco, em 21 de outubro de 1947. Dali a 12 anos aconteceria um episódio que mudaria o rumo de sua carreira (e de sua vida) ,e da história do frevo.
Privando da amizade do maestro Nelson Ferreira, de cuja orquestra foi crooner logo nos primeiros anos de carreira, Claudionor Germano foi o escolhido para a homenagem que a Rozenblit prestaria ao compositor Lourenço da Fonseca Barbosa, Capiba, pelos seus 25 anos de frevo, tendo como início o seu até então maior sucesso, É de Amargar, campeão do carnaval pernambucano de 1934 (lançada no mesmo ano por Mário Reis).
Até então, Claudionor via-se como um intérprete do estilo musical que predominava no rádio, sambas, baladas, alguma música regional. Frevo só no Carnaval, quando cantava com alguma orquestra, geralmente a de Nelson Ferreira. Ao aceitar o convite para gravar um LP de frevos canção, de Capiba ele seria o primeiro cantor a ter um álbum inteiro de músicas carnavalescas. A praxe era interpretes da chamada música de meio de ano gravar composições de época, carnaval, São João, Natal. Mesmo que o maestro convidasse outro cantor para o projeto, Claudionor já estava na história do frevo, por ter participado do disco inaugural da gravadora Rozenblit, com Boneca, de Aldemar Paiva e José Menezes, para o carnaval de 1953 (na outra face, Come e Dorme, frevo de rua de Nelson Ferreira)
Mas o que deveria ser parte a homenagem a Capiba, também celebrado pela prefeitura na abertura do carnaval com direito a desfile num carro alegórico com participação dos grandes compositores da época, acabou sendo não um, mas dois discos. Se Capiba teria direito a um LP todo dele, 25 Anos de Frevo, o maestro Nelson Ferreira quis o seu, batizado de O Que Eu Fiz e Você Gostou. E assim Claudionor Germano bateu o recordes do cantor com mais música de carnaval gravadas num só ano. Recorde este que não foi superado, porque a dose foi repetida no ano seguinte, quando gravou Carnaval de Capiba, com música de seu Lourenço Barbosa, e O Que Faltou e Você Pediu, de Nelson Ferreira.
Ilustro a postagem com um anúncio do lançamento de ambos os discos (mais o terceiro volume da série Capital do Frevo) por um detalhe que certamente passará despercebido. No convite da Rozenblit não consta o nome do intérprete dos LPs, uma característica do frevo, único gênero da música popular em que a maior importância até 1959 era o compositor, não quem cantava a música. Isto porque o frevo também era o único gênero com autor certo e sabido. Só o fazia quem sabia ler e escrever partituras, criar arranjos e orquestrações.
Como ressaltava Valdemar de Oliveira, composições que não derivavam de música tradicionais, ou de domínio público. Refere-se ao frevo instrumental. Ironicamente, apenas o mais popular dos frevos de rua, a Marcha nº 1 do Vassourinhas, atribuída a Mathias da Rocha e Joana Batista Ramos, é uma adaptação da canção portuguesa Se Esta Rua Fosse Minha, de autor desconhecido.
A VOZ DO FREVO

Ao gravar os dois citados LPs, Claudionor Germano passaria a ser cantor de frevo, algo que não existia até então. O que levaria a Rozenblit e outras gravadoras, a destacar o dono da voz que cantava os frevos, até mais do que os compositores. O imenso sucesso dos discos, sobretudo o com músicas de Capiba, que nunca saiu de catálogo, o que também deve ser um recorde nacional, deflagrou uma onda de novos compositores e intérpretes de frevo canção, infelizmente, em detrimento do frevo de rua, o combustível das agremiações de pedestres, e dos passistas.
Em 1960, além do par de álbuns com composições de Nelson e Capiba, Claudionor Germano gravou o hoje raríssimo Sambas de Capiba, cujo maior sucesso foi A Mesma Rosa Amarela (parceria com o poeta Carlos Penna Filho).
Ao completar as nove décadas de vida, e 75 anos de carreira, Claudionor Germano é uma lenda da música pernambucana, com presença certa e sabida no novo modelo de folia implementada desde anos 2000, um carnaval todos os gêneros, com uma extensa programação de shows, tendo como palco principal a Praça do Marco Zero, no Bairro do Recife.
P.S – Em 2017, lancei pela CEPE, o livro A Voz do Frevo, uma biografia de Claudionor Germano, com um pouco da história do rádio em Pernambuco. O livro continua em catálogo, confiram no site da Companha Editora de Pernambuco: http://www.cepe.com.br
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