Desde o sucesso da bossa nova no exterior, quando o Brasil passou a exportar produtos sonoros manufaturados, e não mais matéria prima (sambão e dançarinas mulatas), a música brasileira toca muito no exterior. A primeira vez em Paris, entrei num Mc Donald’s, porque minha então mulher queria comer um big mac. Nada contra Mc Donald’s, ou qualquer cadeia americana de brebotes. Mas tergiverso. Entramos nessa loja do Mc Donald’s e tocava João Gilberto no som ambiente. Dias depois, em Madrid, o som ambiente do hotel tocava Roberto Carlos o tempo inteiro.
A gente lá fora torna-se mais patriota. Adorei ter visto um cartaz de um show de Ary Toledo numa parede em Nova Iorque, e me orgulhei de ver cartazes do Sepultura em todas as lojas de discos em que entrei na Europa em 1991. Cartazes só , não. Camisetas, bottons, bandanas. Naquele ano, o Sepultura tornou-se uma das bandas de rock mais bem sucedidas do planeta. O que surpreendia os gringos, que imaginavam que na música brasileira predominavam o banquinho, um violão, e harmonias complexas e agradáveis.
Em Portugal tocavam muito MPB, em parte por causa de trilhas de novelas globais. Curioso é que, nunca consegui saber o motivo, aqui no Recife produziam-se discos genéricos de trilhas sonoras, na cola das trilhas da Som Livre. As músicas eram gravadas por intérpretes pernambucanos, que cantavam com timbres assemelhados a Caetano Veloso, Djavan, ou Gal Costa. Os portugueses os consumiam como se originais fossem. Uma história que contei em parte, anos atrás.
Eis que uma gravadora, nem me lembro do nome, acertou uma entrevista com Michael Timmis, vocalista e guitarrista da banda canadense Cowboys Junkies, de que gosto muito. Lá pras tantas fiz a pergunta mais clichê possível quando se entrevista gringo: “O que você conhece da música brasileira?”. A resposta foi curta e grossa; “Nada” (isto vai pra mais de 15 anos). Com os brios patrióticos feridos, contra-ataquei: “Nem a música de Tom Jobim?”. E o canadense Michael Timmis: “Tom Jobim é brasileiro?”.
Baixei a bola depois desta. Uns poucos anos depois, no Porto, num bar à beira-mar tocavam músicas brasileiras, axé, sertanejo romântico, pagode. Era um barzinho pequeno, mais pra lanchonete, talvez o garçom tenha sugerido ao cara do balcão que tocasse MPB porque havia brasileiro no pedaço. Pensei em perguntar se o garçom conhecia a música de Tom Jobim. Não perguntei. É provável que ele me respondesse: “Quem é este gajo?”
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