A gente recebe mensagens por tantos meios de comunicação virtual que acaba se perdendo, e perdendo coisas boas. Foi o que me aconteceu com o disco Deixa o Boi Vadiar, de Hélder Vasconcelos, e o Boi Marinho, grupo com que o músico, ex-Mestre Ambrósio, circula pelo Bairro do Recife, Olinda e adjacências, carnavalizando o bumba meu boi. O álbum foi lançado em 2021, recebi um link pra escutá-lo, mas passei batido, e só vi, por acaso, nesta semana.
Eu o incluiria entre os melhores discos do ano passado. Hélder Vasconcelos tem fortes ligações com o cavalo-marinho, que ele e a turma do Mestre Ambrósio, no final dos anos 90, divulgaram entre jovens da classe média, e o brinquedo popular virou uma moda, infelizmente passageira, como toda moda. No círculo natalino, as sambadas de maracatu rural, e cavalo marinho no Espaço Ilumiara Zumbi, na Cidade Tabajara, em Olinda, eram então concorridíssimas. Com a família Salustiano mandado ver, em noitadas memoráveis.
Em Deixa o Boi Vadiar, Hélder e o pessoal do Boi Marinho tornam mais palatáveis, para os leigos, as canções, ou toadas, onze delas, nove de domínio público, e duas autorais dando-lhe um toque urbano, estilizando-os no ponto certo, sem descaracterização. Interessante como os vocais femininos, que fazem o contracanto ao longo do disco, não soam formalmente educados, mas meio gasguitas, mesmo timbre das cantoras do povo. Algo que também havia nos corais dos blocos de pau e corda (o que chamam agora de “blocos líricos”), como o do Batutas de São José, ao qual o maestro Nelson Ferreira entregou a gravação do frevo de bloco Evocação, lançado pela Rozenblit/Mocambo, grande sucesso do Carnaval brasileiro de 1957. Os corais dos blocos atuais seguem a linha MPB, tipo Quarteto em Cy.
Deixa o Boi Vadiar foi gravado ao vivo, num sítio em Ouro Preto, Olinda: “Eu queria fazer a coisa mais ao vivo possível, aí gravamos em alguns sets de percussão, sopros e as vozes. Então, por causa dessa situação de pandemia, gravamos em um lugar aberto e uma etapa gravação com um grupo menor na Casa Astral”, esclareceu Hélder Vasconcelos em matéria publicada em julho de 2021, na Folha de PE, assinada por Yuri Euzébio. A experiência e vivência de Hélder Vasconcelos, com 30 anos de música, certamente foi o fator que fez com que o disco tenha uma qualidade sonora irrepreensível. Aliás, o disco inteiro assim é.
(foto: Ricardo Moura)
Hélder Vasconcelos e o Boi Marinho – que nossa Cultura vá às Secretarias de Educação para q.músicas saudáveis tb participem dos jogos físicos dos educandos
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