O folclorista e pesquisador de cultura popular Liedo Maranhão (falecido em 2014), dos maiores conhecedores da literatura de cordel, era conhecido por falar o que pensava. Ai pelos anos 90, surgiu uma onda folheto de cordel, publicou-se uma profusão de títulos, deste estilo de poesia, que se chamava, até os anos 70, folheto de feira. Era consumido pelo povão, e vendidos em praças e feiras livres, os folhetinistas lendo-os em voz alta, atraindo sempre um bom público. Vendo tanto cordel sendo publicado, Liedo comentou (numa entrevista que fiz com ele): “Este povo pensa que poesia é feito hemorroida, que nasce no cu de todo mundo”
Pela facilidade em fazê-los, muitas vezes por pessoas com pouca intimidade com a poesia oral nordestina, e pela imensa quantidade publicada, o cordel recebe, até os tempos de agora, muito mais exposição do que o repente. Cordelista qualquer um pode ser, basta rimar lé com cré. Repentista é dom. Só vencem neste difícil arte da poesia improvisada os bons. Não há enganador na cantoria de viola. Quem não tem talento cai fora no primeiro desafio que ouse encarar.
Talento é o que não falta a dupla Antonio Lisboa e Edmilson Ferreira, dois dos grandes violeiros em atividade no Nordeste, infelizmente, pouco conhecidos fora do círculo dos que o praticam, e dos seus apologistas. Antonio e Edmilson cantam juntos há 25 anos, um recorde na cantoria, e celebram a efeméride com cinco horas de poesia oral nordestina. Estão empreendendo uma turnê por cinco cidades, Garanhuns, Itapetim, Marcelino Vieira (RN, onde nasceu Antonio Lisboa), Várzea Grande (PI, terra natal de Edmilson Ferreira), e no Recife.
Os dois cantadores, que moram em Pernambuco, aportam no Cais do Sertão no dia 16 de outubro, um domingo, para uma maratona de repentes, embolada e declamação, com participações de nomes consagrados desta arte com pouca visibilidade na capital pernambucana. Geralmente cantorias de pé de parede são promovidas em bares ou clubes da periferia. A divulgação é feita pelas mídias sociais, ou no boca a boca. Estarão com Edmilson e Antonio: os repentistas Raimundo Caetano, Hipólito Moura, João Lídio e Arlindo Filho; os emboladores Papagaio Falador e Topo Gigio; o aboiador Zito Alves; o cordelista, e contador de “causos” Raudenio Lima, e o declamador e poeta, Chico Pedrosa. O projeto 25 Anos 25 Horas de Repente é uma rara oportunidade de se conhecer o melhor da poesia oral da região. Salientando-se que o coco de embolada é um gênero em extinção, embora esta vertente poética esteja incorporada à música popular, porém na voz de artistas da MPB, sobretudo no forró (o autêntico).
Contam-se nos dedos os emboladores em atividade, que perderam seus espaços, desde que supermercados predominam sobre as feiras livres, e a miséria ocupou as praças públicas. No Recife, dois locais onde proliferava a poesia popular eram a Praça da República (Pracinha do Diário), no Centro da capital, e na Praça Dom Vital, ao lado do Mercado de São José. Foi, por exemplo na Praça do Diário que Caju e Castanha, ainda garotos, tornaram-se populares. Também nessas praças, quase todos os dias, podia-se apreciar o talento de duas lendas da embolada, Oliveira e Beija-Flor.
25 Anos 25 Horas de Repente, nome do projeto de Antonio Lisboa e Edmilson Ferreira, acontecerá no vão externo do Cais do Sertão, a partir das 17h, do domingo, 16 de outubro, com entrada franca, com apoios RECENTRO/Prefeitura do Recife, do Centro Cultural Cais do Sertão, e com incentivo do Funcultura.
Perdi!🙄🙄🙄🙄🙄Lastimo! Soube ao ler Teles Toques! Amo Repentes tão subestimados!😥😢😢😢
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