Passarinho Urbano, o disco engajado de Joyce Moreno, dos anos 70, descoberto pela geração anos 90

Dia desses, no insta de uma amiga, da geração anos 90, vi uma postagem de música e capa de Passarinho Urbano, disco de Joyce (a ano do sobrenome Moreno), gravado na Itália em 1975, e saído por aqui em 1976.  Numa das primeiras vezes em que a entrevistei, Joyce tergiversou quando perguntei sobre este álbum, de que gosto muito, e tem algo que atraí pessoas mais jovens. Como era eu quando o comprei, nem me lembro quando. Estava numa gôndola, misturada a outros LPs, em um lojão de descontos da Aky Discos, que ficava próxima ao Mercado de São José. O repertório era muito bom, mesmo sendo só voz e violão, o disco era tamporoso. A capa é péssima, com um desenho de um cantora de cabelo black power, tomando uma Coca-Cola verde, um maior nada a ver, como se Joyce fosse uma Angela Davis dos trópicos. Ou sabe-se lá que ideia passou pela cabeça do artista.

 É um disco politicamente engajado, e raramente é citado quando se escreve sobre a resistência da MPB ao regime militar. Caetano, João Bosco e Aldir Blanc, Donga, Chico Buarque, Paulinho da Viola, Milton Nascimento e grande elenco da trincheira de maquis da música popular brasileira nos anos 70.

Joyce comentou brevemente sobre Passarinho Urbano, no seu livro autobiográfico Aquelas Coisas Todas – Música Encontros Ideias (editora Numa, 2020). Abaixo, o comentário sobre o disco, circunstancial, que curto até hoje:

Meu disco Passarinho Urbano (foi gravado no final de 1975, quando eu estava na Itália com Vinicius e Toquinho, através do produtor italiano Sérgio Bardotti). Acabou virando um disco engajado, à medida que eu ia gravando coisas do pessoal que tinha problemas com a censura aqui – só que eu mesma não me dava conta disso.

Quando mostrei para alguns amigos, aqui no Brasil, teve gente que se assustou com o conteúdo. No lançamento gravei um especial para a TV italiana, e um parente meu, diplomata, que servia em Roma na ocasião, ganhou uma chamada do adido militar brasileiro por minha causa.

Cheguei ao Brasil, em 1976, e tinha uma pessoa na porta do avião pedindo que eu me apresentasse. Fiquei assustada, achando que iria ser presa. Era uma funcionária da alfândega, colega, na época, de minha mãe. Ela tinha ligado para uma amiga, pedindo para me liberarem logo a bagagem. A gente vivia mesmo na maior paranoia!

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