O maestro Ademir “Formiga” Araújo é o ultimo dos sete grandes maestros, compositores de uma fase, digamos, clássica do frevo, a entrar na casa dos 80 anos, completados neste dia 15 de outubro. Os outros: Duda, Nunes, Guedes Peixoto, Clóvis Pereira, Edson Rodrigues e José Menezes, protagonistas do documentário Sete Corações (2014), de Déa Ferraz. Embora conhecido do público pelo trabalho com o frevo, o maestro Formiga enveredou pelas diversas estradas vicinais da música, ignorando barreiras erguidas para dividir a chamada música erudita da popular.
E vai além de rótulos e preconceitos. Trabalhou com, entre outros, a Nação Zumbi, a banda Eddie, Andaluzaprojeto, com o percussionista artista Erasto Vasconcelos. Isto em Pernambuco. Em São Paulo participou de projeto com o grupo A Barca, que se inspira na famosa missão de Mário Andrade, de 1938, que colheu e preservou parte da cultura musical do Nordeste e Norte do país.
Embora seja Patrimônio Vivo da cultura pernambucana, biografia publicada pela editora do estado, a Cepe, escrita por Carlos Eduardo Amaral, o maestro Ademir Araújo tem sua obra gravada quase inteiramente indisponível, e muita composição inédita. Uma pequena parte das suas partituras está disponível no site Catálogo de Bandas de Música de Pernambuco (catalogobandasdemusicape.wordpress.com/acervo-digital-ademir-araujo/)
Por muitos anos saxofonista da Banda Municipal, Ademir Araújo, que estudou com o padre Jaime Diniz, e com o maestro Guerra-Peixe, teve como colegas na banda Naná Vasconcelos, e os futuros maestro Edson Rodrigues, e Nunes. À frente da Orquestra Popular do Recife, ele enfatizou não apenas o frevo, como outros ritmos pernambucanos, sobretudo o maracatu, sendo talvez o maestro que mais compôs neste gênero. Nos anos 80 esteve à frente da orquestra que animava o carnaval de rua do Recife na Frevioca (que tinha como Claudionor Germano como cantor).
Mas Formiga não se limita a compor e tocar, ele bota a boca no trombone, quando se faz necessário. Em 2019, chegou a pedir para que tirassem seu nome dos painéis do Paço do Frevo, que passava por uma crise, e ficou quase paralisado: “Ele é brigão, mas pelos músicos, pela causa da música. É político, politizado. Dos grandes mestres que estão aqui na terra, ele é o único que essa peculiaridade, de ver até um prefeito no meio da rua e cobrar. Não precisa agendar com ninguém pra ser atendido”, comentário do saxofonista Gilberto Pontes, da Spokfrevo Orquestra. O biógrafo Carlos Eduardo Amaral reforça o que diz Pontes: “Ele sempre teve um grande desejo de um local que preserve o maracatu, assim como existe o Paço do Frevo”. Aos 80 anos, Ademir Araújo tem muitos anos pela frente para, quem sabe, ver este desejo realizado.
(na foto, o maestro Formiga dirigindo uma orquestra na Pracinha do Diário, no coração do Recife)
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