O Repercuti, duo formado por Emerson Coelho e Emerson Rodrigues (Pequeno), faz a primeira apresentação do álbum O Som das Baquetas, nessa terça-feira, 18 de outubro, às 19h30, no Teatro Marco Camarotti, do Sesc Santo Amaro. Surgido há seis anos, o Repercuti estreia em disco com apoio do projeto Rumos, do Itaú Cultural. O Som das Baquetas une a percussão sinfônica com instrumentos afro-brasileiros. O álbum circula nas plataformas de música por stream desde a semana passada.
O repertório do disco é formado por composições autorais, e nomes consagrados do instrumental pernambucano contemporâneo: Cesar Michiles, Amaro Freitas, Beto Hortis, Henrique Albino e Lais de Assis. Se lhe coubesse um rótulo O Som das Baquetas seria o de música erudita preta pernambucana. Erudita, porque ambos os Emersons se conheceram quando cursavam bacharelado em música na UFPE. Passaram pela Orquestra Criança Cidadã, Orquestra Sinfônica Jovem, Orquestra Sinfônica do Recife, Orquestra Sinfônica da Paraíba, Grupo de Percussão do Nordeste, e Orquestra de Câmara de Pernambuco.
Instrumentos de origem afro neste caso não se limitam aos tambores e afins, mas também a vibrafone e marimba, instrumentos em que se criam melodias e harmonias. É o que acontece, por exemplo, na faixa autoral, que dá nome ao disco, cerzida pelo vibrafone, mais agogô triplo, cowbell, marimba, bongô e china. O Som das Baquetas, a música tem o subtítulo Ihin Orun (que significa “o som do ferro”), com influência do indeterminismo musical de John Cage e do minimalismo de Steve Reich, ambos americanos. Uma faixa de delicadeza oriental.
Em Chick Corea Forever, o Repercuti reúne dois músicos que estão introduzindo inovações na música pernambucana, em particular, e na brasileira em geral: Amaro Freitas (autor do tema, homenagem ao mestre do jazz, falecido em 2021), enquanto o arranjo é de Henrique Albino, que propõe uma separação de vozes explorando as regiões graves e agudas dos instrumentos, distribuindo entre quem faz o acompanhamento e o solo, oferecendo o diálogo de timbres. Pequeno toca marimba de cinco oitavas e Emerson Coelho, um vibrafone, com o Mi grave.
O álbum quase inteiro tem este diálogo entre os dois idiofones (instrumentos cujo som é tirado por atritos), com uma sonoridade suave, mesmo quando incursiona pelo choro e o samba, como acontece na faixa Chorinho Bom, de Beto Hortiz, em que surdo e pandeiro repercutem em sonoridades delicadas, o que não a maneira mais comum de usá-los.
E isto acontece até mesmo em temas como Pakiparabaki, de Henrique Albino. Peça de 9:34 de duração, com influência de Naná Vasconcelos no uso da voz como instrumento percussivo, mais marimba, vibrafone, alfaia, caixa, chimbal, prato e um ilu. “Henrique é um compositor diversificado, com uma técnica incrível de composição e execução musical, e foi uma figura essencial neste disco. Ele nos desafia a usar o recurso das sonoridades estendidas, que permite extrair sons não convencionais dos instrumentos”, elogia Emerson Rodrigues, mais conhecido como Pequeno.
O Repercuti surgiu em 2016, na universidade, quando estreou na Semana da Música, promovido pela UFPE. Naquele mesmo ano estreou em público num concerto na Capela do Convento de Santo Antônio, em Igarassu, na Região Metropolitana do Recife (cidade natal de Emerson Coelho). “A gente adotava na UFPE o repertório individual e o de grupo. E havia aquela vontade de explorar outras possibilidades, como o formato duo. Sempre fui mais voltado à percussão erudita, desde que iniciei lá na Orquestra Criança Cidadã. Coelho traz o erudito, mas também a percussão da rua, do maracatu, é mais solto no improviso, e fomos estudando juntos naturalmente. Aos poucos, veio a necessidade de nos apresentarmos como duo”, assim os dois músicos complementam-se, esclarece Emerson “Pequeno” Rodrigues”.
E isto fica patente em Anjo Negro, de Cesar Michiles, e que os Emersons interpretam o tema num diálogo de vibrafone e marimba, os dois únicos instrumentos usados nesta faixa, até então inédita. Como inédita também eram Chick Corea Forever e Pakiparabaki. O disco, de pouco mais de 32 minutos, é fechado com, a quarta inédita, Nós de Imbuia, assinada pela violeira Laís de Assis, na qual Pequeno e Coelho tocam a marimba a quatro mãos. Além da marimba é usado, por Emerson Coelho, um talking drum, ou tambor falante. Um disco que soa como se temas de Satie fossem tocados por um virtuoso africano, feito Ballaké Sissoko, do Mali.
Fiquei curioso.
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