Roberto Sancho Ocampo, conhecido como Sandro, seu nome artístico, foi um dos pioneiros do rock argentino. Tengo, um dos grandes hits de Sandro, figura em 15º na lista das cem mais importantes canções do rock da Argentina, segundo a edição da Rolling Stone daquele país. Tengo teve uma versão brasileira em 1969, gravada por Sergio Murilo, mas tornou-se um sucesso nacional em 1978, quando recebeu nova versão, desta vez de Sidney Magal, histriônico e kitsch cantor carioca, formatado como latin Lover, de grande popularidade no final dos anos 70.
Tengo, ou Tenho, volta ao rock and roll, agora na inusitada versão de João Gordo, dos Ratos de Porão, faixa do álbum Brutal Brega, em cujo repertório revisita clássicos deste nicho. Na verdade, algumas músicas vêm da era da Jovem Guarda, revisadas com o tempo, e realocadas em nova prateleira. É o caso de Tô Doidão, versão da francesa Les Dalton, hit do franco-americano Joe Dassin em 1967, Reginaldo Rossi, que nunca saiu do iê-iê-iê, gravou a versão em português, em 1971.
Também da época da Jovem Guarda, é Verdes Campos da Minha Terra, versão para Green Green Grass of Home (Curly Putman), gravada pela primeira vez em 1965, por Johnny Darrel, depois por Elvis Presley, Tom Jones, ou Johnny Cash (tem cerca de 250 regravações só em inglês). Não é exatamente brega, mas Agnaldo Timóteo, que se apresentava no programa Jovem Guarda, teve seu status reclassificado e passou a ser brega (rótulo que detestava). João Gordo canta, em dueto com Marisa Orth, uma pérola do brega setentista, Não se Vá (no original, Tu t’ens Va, lançada, em 1975, pela dupla francesa Alain Barriere e Noelle Cordier), maior hit de Jane e Herondy, em 1976.
O que também aconteceu com Nilton César, que se infiltrou no iê-iê-iê, em meados dos anos 60. Até então, militava nas hostes do bolerão. João Gordo dá roupagem hardcore a excessivamente romântica A Namorada que Sonhei (Osmar Navarro), sucesso de Nilton César em 1969. Mais uma de Sidney Magal é Amante Latino, original do argentino Rabito , versão de Antonio Carlos. Mas a melhor do disco é Pepino, de Jacó e Jacozinho, um megassucesso em 1975. Mais conhecida como Eu Não Quero Mais Pepino. “Eu não quero mais Pepino/eu não quero mais pepino/que eu sofro do intestino/eu não quero mais pepino”, pela ferocidade da interpretação é de se acreditar piamente que João Gordo realmente não quer mesmo mais pepino.
A seleção de João Gordo, dependendo do ponto de vista, é primorosa, privilegiando canções que o povão consagrou. Não são bregas de letras premeditadas para se encaixar na tendência da vez do popularesco. Brutal Brega é divertido, pra animar a festa. Mas como toda piada, tal tipo de projeto só tem graça uma vez. Uma sequência seria piada velha.
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