Crônica: Quando celebridades morrem no mesmo dia a menos célebre fica em segundo plano no noticiário

Li hoje um artigo num site, tipo Reader’s Digest, que assino, sobre pessoas famosas, ou importantes, que foram pro outro plano no mesmo dia em que também foi desta pra melhor uma pessoa famosa e importante, porém imensamente mais popular. Se você estiver querendo uma matéria espaçosa na mídia, torça pra não morrer no mesmo dia do passamento de, digamos, um cantor sertanejo com sucesso em novela global.

Groucho Marx foi um dos maiores humoristas e cômicos do século 20. Ele e os irmãos Harpo, Chico, e Zeppo fizeram filmes obrigatórios. Dois deles foram títulos de álbuns do Queen: A Night at The Opera (1975) e A Day At The Races (1976). Groucho foi celebrado em vida, suas tiradas são repetidas até hoje por gente que nem sabe a origem delas. Porém, morreu em 19 de agosto de 1977, três dias depois de Elvis Presley falecer. A comoção nacional pela perda do Rei do Rock foi tão grande, nos EUA, que a imprensa minimizou o espaço para a morte Groucho Marx (Woody Allen chegou a escrever carta à redação da Time, reclamando).

Dois dos maiores escritores da literatura mundial, C.S Lewis (de Crônicas de Narnia), e Aldous Huxley (de Admirável Mundo Novo, e As Portas da Percepção) tiveram o azar de bater as respectivas botas no mesmo dia em que assassinaram o político pop John Kennedy, em 22 de novembro de 1963. A morte de do presidente americano gerou uma comoção mundial. As mortes dos dois escritores só foram noticiadas dias depois. A de Aldous Huxley saiu no New York Times somente no dia 24 de novembro.

No Recife, noticiou-se a de Huxley no dia seguinte, porém enfatizando a sua passagem pelo Recife em 1958, ilustrando a matéria com uma foto do escritor no restaurante Leite, com intelectuais pernambucanos. Já a de C.S Lewis nem se tocou no assunto.

Por fim, mas não menos importante, Madre Teresa de Calcutá. Aproximando-se o final do ano 2000, a madre era considerada um dos quatro símbolos mais reconhecidos do século 20, ao lado da Coca-Cola, entre outros. Porém ela morreu, aos 87 anos, em 5 de setembro de 1997, cinco dias depois da morte de Lady Diana, a princesa, cujo casamento foi visto, pela TV, por 750 milhões de pessoas, em 74 países. Não tinha como competir.

Madre Teresa de Calcutá ganhou matérias bem menores do que fazia jus. Lady Di ganhou cadernos especiais, páginas e mais páginas, imagens e mais imagens. Ganhou até piada. Permitam contá-la.

São Pedro avisou ao pessoal que cuidava da porta do céu, da chegada de Lady Di. “Nossa, aquela loura linda, princesa na Inglaterra?”. São Pedro respondeu afirmativamente, acrescentando que ela morrera de um grave acidente de carro.

A turma ficou ansiosa, esperando a celebridade. Dias depois, tocam a campainha da porta do céu. Os que trabalhavam na recepção dos recém-subidos correram todos pro portão, achando que a princesa chegara. Mas quem chegou antes foi Madre Teresa, que ficou lá fora, sentada numa mala, esperando. Um dos caras, antes de abrir o portão, deu uma espiada pelo olho mágico. Quando viu a madre teve um sobressalto. Voltou-se pros colegas e comentou: “Puta que pariu, que acidente da porra”.

   

 

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