O canadense Leonard Cohen foi um dos mais importantes compositores de música popular do século 20 (faleceu em 2016, aos 82 anos). Música popular que leva à reflexões. Foi também poeta inspirado (notabilizou-se como escritor, antes de se tornar autor e intérprete de suas canções), místico, um pensador. Sua obra permanecerá sendo revisitada, como vem sendo a obra de músicos de Bach, Beethoven, Mozart, Stravinski, ou de Irving Berlin, irmãos Gershwin, ou Lennon & McCartney.
A música de Cohen é revisitada agora, com o álbum Here It Is: A Tribute to Leonard Cohen (Blue Note), que reúne nomes que trilham caminhos sonoros diferentes, como, por exemplo, Iggy Pop e a brasileira Luciana Souza. Um oportuno projeto de manter na vitrine um repertório essencial, numa época em que futilidade tornou-se a característica (com as inevitáveis exceções), da música que predomina nas paradas do mainstream.
Norah Jones abre o disco com Steer Your Way, uma balada do derradeiro álbum de estúdio de Cohen, lançado no ano da sua morte. A cantora mais conhecida pelo jazz suave, de baixos teores, imprime as inflexões necessárias para enfatizar a letra: “Caminhe sereno pelas ruínas do shopping e do altar/caminhe sereno pelos emblemas da criação e da queda/caminhe sereno pelo palácios que se erguem sobre a podridão”.
Cada intérprete apresenta sua apreensão particular das canções de Leonard Cohen. O histriônico Peter Gabriel canta a faixa título no estilo do compositor, quase declama os versos da canção, com um fundo de jazz, lembrando os discos que os poetas beat lançavam nos anos 50, e Cohen foi ponta de rama daquela geração literária. A canadense Sarah McLachlan reinterpreta a manjada Hallelujah, canção mais popular de Leonard Cohen, sem subir a voz, enfatizando os versos, uma das melhores faixas do álbum.
A paulistana Luciana Souza, pouco citada no Brasil, mas de grande prestígio no círculo jazzístico americano, canta Hey, That’s No Way to Say Goodbye, uma das mais belas canções já feitas sobre separação, com modulações vocais, e fraseados que mexem na melodia, com um inspirado solo de sax, que reforça o sentimento transmitido pela música. O proto-punk Iggy Pop, feito Peter Gabriel, prende-se ao estilo de interpretar de Cohen, sussurrando, intimista, com timbre roufenho, a letra de You Want it Darker. Aliás, a personalidade de Cohen é tão forte, que até James Taylor, que criou seu próprio estilo de interpretar canções agridoces, soa parecido com o compositor em Coming Back to You.
Suzanne, outro hit de Leonard Cohen, ganha uma interpretação que transmite emoção na voz de Gregory Porter, outro nome bem conhecido, e reconhecido. Aqui há interpretes menos populares, a exemplo de o cantor e autor folk Nathaniel Rateliff ou o inglês David Gray, de muitos hits entre os britânicos, mas menos badalado fora da Inglaterra, ou Pais de Gales, (onde vive). Duas faixas são instrumentais: Avalanche, com o incensado, e talentoso, saxofonista americano Imannuel Wilkins, craque no improviso, e pelo guitarrista de vanguarda Bill Fraser, mas que incursiona por estilos variados. Frisell fecha o repertório, de 12 faixas, com Bird on the Wire.
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