“Até dezembro próximo, prepare-se para ver uma grande modificação na fisionomia urbana do Centro do Recife. A prefeitura vai começar, dentro de 30 dias, no máximo, as obras da abertura final da Avenida Dantas Barreto, entre as ruas Tobias Barreto e São João. Mais de 100 casas e a Igreja dos Martírios que, felizmente, não tem importância história e artística, serão demolidas. O progresso poderá correr assim mais depressa”
Trecho pinçado de matéria do Diário de Pernambuco, no final de 1971, quando o prefeito Augusto Lucena para alongar a Avenida Dantas Barreto, demoliu parte do bairro de São José, e a Igreja dos Martírios, templo do século 18, construído com dinheiro de pretos e pardos. A matéria não é assinada, portanto, não se sabe que o “felizmente, não tem importância histórica” é do autor do texto, ou constatação de algum especialista.
Deu polêmica, com muita gente grande a favor ou contra da demolição da igreja, então recentemente tombada. O prefeito conseguiu com o general Médici o destombamento da igreja que tombou literalmente, começando pela fachada.
O cai mas não cai da Igreja dos Martírios tornou-se assunto nacional. No Rio, o paisagista Burle Marx escreveu artigo de página inteira no Jornal do Brasil contra a derrubada da igreja. Médici, contrariando o Conselho Federal de Cultura, destombou o templo, segundo o prefeito (em declaração ao DP), graças ao prestígio do sociólogo Gilberto Freyre junto ao governo.
Se no Brasil tudo termina em pizza, em Pernambuco, pelo menos no Recife, termina em frevo. Inspirado pela construção da nova Dantas Barreto, o maestro Nelson Ferreira compôs Ruas da Minha Infância, o último frevo de bloco da série de evocações, iniciadas em 1956 (para o carnaval de 1957), com Evocação nº 1 (na verdade o título é apenas Evocação). (Ruas da Minha Infância ganhou o primeiro lugar no III Festival do Frevo, promovido pela Rede Tupi de Televisão (aqui a TV Radio Clube de Pernambuco), e Secretaria de Educação do Recife.. Na letra ele canta o bairro de São José, onde cresceu e morou, citando ruas que sumiriam para a expansão da Avenida Dantas Barreto que, meio século depois, tornou-se um trambolhão no Centro da capital pernambucana, e um martírio para os recifenses.
Todas as sete evocações de Nelson Ferreira foram incluídas no disco 50 anos em 7 notas – meio século de frevo de bloco – vol. 1, de 1973, com selo Rozenblit/Passarela. A letra de Ruas da Minha Infância (gravada por Claudionor Germano):
Ruas da minha infância
Quantas lembranças deixaram em mim
Augusta, Hortas, Alecrim
De travessas e becos hoje desmoronados
Daqueles carnavais em que eu menino
Fugia com medo dos alegres mascarados
O meu Recife cada vez mais lindo
Tão diferente, minha gente, é o progresso
Por isso ó ruas da minha infância
Jamais ouvirão do Bloco a Marcha Regresso
E se no mundo tudo tem o seu fim
Adeus rua Augusta, de Hortas e Alecrim.
(Foto: https://www.facebook.com/recantigo)
Maestro Nelson Ferreira – principal AV. que atravessa Bairro Maranguape I/Paulista/limite c/Olinda: existe R. Canhoto da Paraíba, falta existir: R. Erasto Vanconcelos/compositor/irmão Naná Vasconcelos… Que aqui residiu…Uma pedra no caminho das ruas a batizar nas periferias, onde quem faz a máquina girar reside, é ou não é?🥰
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nem sei se é honraria ganhar nome de rua do jeito que as ruas do recife estão
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Autor/músico ClaraCrocodilho diz prog.provoca- não gostaria ser lembrado; lembro tb “homem único animal q.ao sorrir arreganha os dentes” ou “os escafandristas irão encontrar ecos…” gira a vitrola
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