Atribuiu-se a Joana Batista a có-autoria da Marcha nº1 do Clube Carnavalesco Misto Vassourinhas, quando ela, no máximo, colaborou com a letra colocada na canção infantil portuguesa Se Esta Rua Fosse Minha, entoada quando o clube desfilou pela primeira vez no carnaval de 1889, (foi fundado no Dia de Reis daquele ano). Era comum as agremiações adaptarem letras em músicas conhecidas, que logo eram esquecidas.
Vassourinhas só se tornaria marcha pernambucana (o que mais tarde seria denominada de frevo de rua), por volta de 1907, quando a melodia recebeu arranjos e orquestração de algum maestro, provavelmente o próprio Mathias da Rocha (oficialmente o parceiro de Joana Batista em Vassourinhas). Mathias, este sim, foi um dos mais prestigiados compositores na primeira década do Clube Vassourinhas, os jornais citam músicas assinadas por ele, e acrescentadas ao repertório da agremiação. Tanto que quando morreu, em 1907, uma foto emoldurada de Mathias foi aposta na sede, e batizou-se com seu nome uma escola de música ligada ao Vassourinhas.
Porém, se é mais que duvidoso que Joana Batista tenha composto alguma música em sua vida, na história das primeiras décadas do frevo há várias mulheres compositoras que não figuram nos livros, artigos, ensaios, teses acadêmicas, certamente porque não tiveram músicas gravadas, como de resto a maioria dos compositores de então. Depois, porque raras compositoras continuaram no meio artístico depois de casadas. Dois exemplos são bem conhecidos, os das pianista Argentina Maciel, que foi morar em Pesqueira com o marido, e de Tia Amélia, que só voltou aos palcos no final da década de 50, depois de viúva, e já com idade avançada para a época.
No Grande Concurso de Música Carnavalesca de 1933, 95 músicas foram inscritas. Entre os autores, sete mulheres autoras: Cornélia Valença, Perpedigna de C. Campos, Julieta de Oliveira, Argentina Maciel, Alba Borges, Maria Nazareno, Maria Pinheiro. Dessas, Maria Nazareno, Alba Borges, Cornélia Valença, e Argentina Maciel participaram com frevos canção, e de rua (o instrumental).
Bastante atuante no Recife, e ignorada nos escritos sobre frevo, merecedora de uma pesquisa mais aprofundada sobre sua carreira, foi Julieta de Oliveira. No citado concurso, ela classificou-se em quarto lugar, atrás de, pela ordem, Nelson Ferreira, Marambá, e Capiba, com o frevo canção Quando o Carnaval Chegou. Zíngara foi o pseudônimo que usou para a inscrição, e acabou sendo quase seu nome artístico. Seu frevo foi um dos mais tocados no Carnaval de 1933, e gravado pela Companhia Byington (anos depois rebatizada de Continental). Julieta é, pois, a primeira mulher a ter um frevo gravado. Intitulada Quando o Carnaval Chegou, a composiçção foi lançada por Jararaca (da dupla com Ratinho), com acompanhamento da American Jazz. O alagoano José Rodrigues Calazans, o Jararaca, certamente conhecia Julieta de Oliveira, pois morou, e atuou como músico, no Recife, nos anos 20, e fez parte de orquestras de pau e corda de blocos como o Apois Fum, e o das Flores.
O frevo de Julieta de Oliveira ocupa do lado A do 78 rotações que traz Morena do Amor, de Marambá na outra face. José Mariano da Fonseca Barbosa, o Marambá, era irmão de Capiba, e quase tão bem sucedido quanto este no carnaval pernambucano. Só há registro de uma única composição gravada de Julieta de Oliveira. Mas não fez só essa para o carnaval. Em 1937, por exemplo, em parceria com o maestro José Calazans, ela escreveu a letra da marcha regresso do Batutas de Olinda.
Julieta de Oliveira, nasceu em 1911, na Rua das Pernambucanas, nas Graças, de família abastada. Estava com 12 anos quando publicou sua primeira composição, que rendeu a notinha no Diário de Pernambuco: “Sublime Adoração – com o título acima acaba de ser publicada nesta capital a primeira composição da jovem e graciosa musicista conterrânea, senhorita Julieta de Oliveira. Sublime adoração é uma linda valsa para piano. Consagra-a a autora aos seus queridos pais. A delicada composição de Julieta de Oliveira acha-se à venda nas casas de música da cidade” .
Na imprensa durante os anos 30, são citadas várias composições de Julieta de Oliveira. Seu nome deixa de ser citado a partir da década de 40, o que dá pra se supor que tenha casado, e interrompido a carreira.
(foto de Julieta de Oliveira, em 1932, reproduzida de uma edição do Diário de Pernambuco)
Link para escutar Quando o Carnaval Chegou, com Jararaca, no site do Instituto Moreira Salles: https://discografiabrasileira.com.br/composicao/55811/quando-o-carnaval-chegou
Deixe um comentário