O carrão está onipresente no rock and roll dos anos 50. Chuck Berry, The Beach Boys emplacaram hits que se tornaram clássicos tendo automóvel como tema. Na verdade, quase todos roqueiros da época cantaram sobre automóveis. Naquela década os adolescentes passaram a guiar os carros da família, e toda família americana tinha carro, ou carros. No Particular Place to Go (1964), de Chuck Berry, sintetiza primorosamente a temática.
No Brasil isto se deu, com muito menos intensidade, e só a partir de meados dos anos 60. O sonho de qualquer jovem, sobretudo nas grandes cidades, era ter um automóvel. A turma pioneira do rock nacional era chegada a um carrão. O primeiro grande hit sobre o tema, Rua Augusta, composta pelo coroa Hervé Cordovil (com 49 anos, em 1963, quando compôs a música). Fo lançado por Ronnie Cord (filho de Hervé). A letra é de uma impressionante irresponsabilidade no volante: “Entrei na Rua Augusta a 120 por hora/botei a turma toda do passeio pra fora/fiz curva em duas rodas sem usar a buzina/parei a quatro dedos da vitrina/legal” (legal?).
Roberto Carlos que, no auge da Jovem Guarda possuiu muitos carrões, fez imenso sucesso com O Calhambeque (versão da americana The Road Hog, de J.D Loudermilk), que virou até símbolo da JG, marca de roupa, broches, anéis etc. RC abordou o tema várias vezes, sempre alheio às leis do trânsito. “Vinha voando no meu carro/quando vi pela frente/na beira da calçada/um broto displicente/Joguei o pisca-pisca para a esquerda e entrei/A velocidade que eu vinha, não sei/Pisei no freio obedecendo ao coração e parei/Parei na contramão”, versos de Parei na Contramão, de Roberto e Erasmo. De 1963. Aliás, o motorista assedia uma moça, seguindo a jovem com o carrão, lixando-se para a mobilidade alheia.
Nessa canção, o guarda acaba levando a carteira de motorista do motorista transgressor. Mas Roberto reincidiu, e deu mau exemplo logo num LP intitulado Roberto Carlos Canta Para a Juventude (1965), na faixa Os Sete Cabeludos (dele e Erasmo). As leis de trânsito são fragorosamente desrespeitadas porque o carro, normalmente com lotação de cinco pessoas, carrega muito mais gente, na maior velocidade: “Eu vinha no meu carro em doida disparada/com sete cabeludos pra topar qualquer parada/foi quando de repente, a cena eu avistei/e o freio do carango bruscamente eu pisei”. Conforme atestam os versos acima, no carro havia oito pessoas. O motorista e os sete cabeludos.
Os guardas de trânsito foram negligentes porque viram o excesso de lotação, e não deram a mínima. Afirmo isto porque os caras estavam num carro de capota conversível, o que é confirmado nesta estrofe: “Sem mesmo abrir as portas e sem botar as mãos/
pulamos todos sete para entrar em ação”. E daí em diante é mais assunto para a polícia comum mesmo, porque rolou o maior buruçu com uma turma rival.
Em Por Isso Corro Demais (1967, só do Rei, que estava de mal com o Tremendão), Roberto atribui seus excessos de velocidade à namorada que não mora com ele: “Se você vivesse sempre ao meu lado eu não teria/motivo pra correr e devagar eu andaria/eu não corria demais, agora corro demais/corro demais só pra te ver meu bem”. A canção ainda tem como efeito especial umas freadas bruscas, o que chamam de “cantada de pneus”.
A amada é também a suposta culpada por Roberto Carlos enfiar o pé no acelerador, nas duas últimas canções que transgridem o código nacional de trânsito, As Curvas da Estrada de Santos (1969, assinada por Carlos/Carlos), e 120… 150…200 km por Hora (1970). Nessa época não havia os radares potentes de agora, tampouco lombada eletrônica. Os automóveis mais potentes. Por causa da namorada o motorista se joga nas tortuosas curvas da estrada que leva a Santos, que exigem prudência, algo que não rola nessa viagem. Em lugar de diminuir a velocidade ao dobrar uma curva, o cara pisa fundo no acelerador: “Se acaso numa curva eu me lembro do meu mundo/Eu piso mais fundo/Corrijo num segundo, não posso parar”.
Na segunda das citadas road songs, o cara parece querer ir desta pra melhor, ao aumentar gradualmente a velocidade do automóvel. 120, 130, 140, 150, 160, 180 até chegar a 200 km por hora: “Estou só, a 200 por hora/vou parar de pensar em você/pra prestar atenção na estrada”. Quer dizer eu até então ele não estava prestando atenção em nada. Nem ele, nem os agentes da Polícia Rodoviária Federal. Impossível o sujeito, não ter passado por nenhum posto da PRF nesse trajeto desenfreado que empreende na canção. A partir daí Roberto Carlos passa a obedecer às leis de trânsito, era um homem casado, entrado nos trinta anos, tornou-se pai, não tinha mais que afundar o pé no acelerador, e sem cinto de segurança. A velocidade do Rei em canções, levou a dupla Antonio Carlos & Jocafi a lançar, em 1970, uma composição deles intitulada Roberto Não Corra: “Roberto não corra não/você se trumbia Roberto/na estrada de Santos”.
legal, valeu
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Maravilha de Texto Zé,,, Abração,,,
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e tinha as paródias: Vinhavoando no meu carro/quando vi pela frente/no meio da estrada, uma jega sem dente
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Pois é
Tinha a paródia da namoradinha de um amigo meu
Mas era outro tema
Hehehehe
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