A primeira vez que vi Gal Costa num palco, foi no Geraldão, no show dos Doces Bárbaros, em 1976. De lá pra cá, perdi a conta dos shows dela a que assisti. O último foi Recanto, no Teatro Guararapes. Curioso é que não consigo destacar algum dos seus concertos em particular. Talvez o do O Sorriso do Gato de Alice. Minhas memórias de Gal não privilegiam as canções ditas icônicas, Baby, Divino Maravilhoso, Vapor Barato. Quando penso na obra de Maria das Graças Costa Penna Burgos a música que me vem à cabeça é Negro Amor, formidável versão de Caetano Veloso/Péricles Cavalcanti para It’s All Over Now Baby Blue.
Esta está no álbum Caras & Bocas, de 45 anos atrás. Já o disco de Gal que mais escutei, que tenho de cor cada faixa, não é o mais citado de sua biografia, embora tenha um dos repertório mais redondos, o Água Viva, de 1978. Talvez porque quando lançou seu LPs mais, digamos, emblemáticos, transgressores, sobretudo o Fatal, eu, não tinha grana pra comprar, e escutava faixas esparsas que tocavam no rádio, ou em reuniões de amigos.
Entrevistei Gal quase sempre por telefone. Pessoalmente, a vez que mais conversamos foi em 1998, coquetel do álbum Aquele Frevo Axé, num casarão na Rui Barbosa, que funcionava, uma empresa de recepções. Ela estava muito à vontade. Conversamos amenidades, abobrinhas. Não havia muita gente. Certamente porque Gal não estava em alta na época. Um período de transição, em que a música brasileira girava entre a axé music dançante, e o manguebeat cabeça, e Gal não se aproximara daquelas novas cenas. Aquele Frevo Axé é um dos seus discos menos conhecidos.
Confesso que escutei pouco os discos que Gal lançou daí em diante. A voz continuava a mesma, talvez melhor, mas desde a geração Brock, ou rock nacional dos 80, os jovens não se interessavam tanto em escutar Gal. Somente fãs de carteirinha curtiam os LPs e CDs que lançou nos anos 90 e 2000. Neste século foi descoberta pela geração X (ou Y ou Z, nunca sei exatamente a letra), mas somente os discos dos anos 60 e 70. A crítica pareceu se desinteressar pela Gal Costa que fez concessões ao autores especialistas em hits.
Não por acaso, seus dois últimos grandes sucessos foram Um Dia de Domingo, de Michael Sullivan e Paulo Massadas, e Chuva de Prata, de Ed Wilson.
Esse pessoal deveria escutar melhor a discografia de Gal pós anos 70. Dá pra fazer um álbum inteiro de preciosidades, hoje obscuras, de, entre outros, Caetano Veloso gravadas por Gal, sem repercussão. Experimentem ouvir Tapete Mágico, de Fantasia (1981), apesar dos teclados melífluos, acho que do então malhado, depois incensado, Lincoln Olivetti, uma grande canção, com uma letra inspirada de Caê:
“Os olhos de Carmen Miranda moviam-se/discos voadores fantásticos/no palco Maria Bethânia desenha-se/todas as chamas do pássaro/a dança de Chaplin, o show dos Rolling Stones/a roça do Opô Afonjá/mas nada é mais lindo que o sonho dos homens/fazer um tapete voar”. Tem muito mais coisas nesses discos de Gal Costa, a que não se deram a devida atenção.
Teles, você sempre fiel a tudo aquilo que é exposto, escrito e vivenciado na sua vida.
Falo isso por a mais de uma década você escrever no jornal uma grande comparação entre as cantoras Gal Costa e Maria Bethânia.
Nessa matéria você falava exatamente isso escrito hoje e até mais um pouquinho, afirmando que Gal ainda estava longe da musicalidade e timbre da voz da Maria Bethânia.
Pena não ter mais esse achado (matéria da época) que hoje daria para fazer uma boa comparação.
Abraços amigo!
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Qaundo gal surgiu para o grande público, em 1968, com Baby, Maria Bethânia já era uma estrela nacional. Os livros da história do tropicalismo não afirmam, mas acho que Bethânia não foi tropcalista porque deu um pau em Guilherme Araújo, o empresários dos tropicalistas. Então sobrou pra Gal, que se adaptou ao novo estilo de forma impressionante, e virou a musa da Tropicália
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gal acho que foo pega de surpresa, adaptou-se rapidamente, e tornou-se uma das maiores intérpretes da história da música brasileira
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