Em 1970, Rolando Boldrin, concorreu num festival de música caipira, um dos raros dedicado ao gênero acontecido numa época de tantos e tantos desses concursos musicais. Nos jornais de então, depois do nome do artista, vinha um “o padre José, de As Pupilas do Senhor Reitor”, papel que fazia numa novela, da TV Record. Até começar a apresentar o programa Som Brasil (1981 a 1984), na TV Globo, sabia-se muito do ator, e pouco do cantor Boldrin. Embora intérprete e compositor talentoso, a música era secundária na sua vida profissional. Só gravou o primeiro disco solo em 1974, o Cantadô, pela Chantecler, gravadora que abrigava gente dos universos caipira e forrozeiro. Um disco quase todo autoral.
A partir de 1978, Rolando Boldrin dedicou-se mais à música. Em 1979, gravou um de seus melhores discos, Rio-Abaixo, pela Continental, com um repertório de clássicos caipiras, pura raíz. A maior parte das faixas é assinada por Raul Tores (1906/1970), da dupla com Florêncio e um dos grandes nomes da música sertaneja (bem antes do nome ser usurpado, a partir dos anos 70, e se transformado numa música pop popularesca).
Sem alarde, Rolando Boldrin tornou-se uma trincheira da musica do interior do Sudeste, e Centro-Oeste que foi saindo da mídia a partir do surgimento de duplas influenciadas pelo iê-iê-iê e pelo faroeste italiano (curiosamente o que aconteceu por um tempo na música jamaicano), resultando num esdrúxula mistura sonora e visual. Milionário & Zé Rico, Léo Canhoto e Robertinho foram pioneiros na indumentária de faroeste caboclo que inspirou outros caipiras e adotarem chapéus de caubóis, jeans e cabelos longos, até dar no sertanejo dos tempos atuais, que de sertanejos só guardam a nomenclatura.
O programa Som Brasil tinha ótima audiência, apesar do horário em que ia ao ar, domingo de manhã, logo depois do Globo Rural. Provavelmente, uma tentativa da Globo de faturar também com a música sertaneja de raíz, já que os sertanejos pop começavam a vender bem fora do nicho particular deles. O programa durou pouco. Foi para outras emissoras, com outros nomes: Empório Brasileiro, na Bandeirantes, Empório Brasil no SBT, Estação Brasil na TV Gazeta e Sr.Brasil. O formato continuou mais ou menos o mesmo. Música e “causos”, contados por ele.
Com o predomínio da monocultura musical rotativa (sertanejo, axé, pagode, Braga, etc.), Rolando Boldrin abriu o programa para o choro, o forró autêntico, muito para o instrumental, variado, sobretudo na fase da TV Cultura. Fez do Sr.Brasil um dos melhores programas da TV brasileira, de utilidade pública, pela abrangência. Rolando Boldrin foi também uma das figuras mais importantes para a MPB nas últimas décadas, não apenas pela obra pessoal que produziu, como por ter apresentado, nos presenteando, tanta música de alta qualidade que não teria vez noutras emissoras.
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