Nessa segunda-feira, 21 de novembro, completam-se 60 anos do histórico concerto de bossa nova no Carnegie Hall, em Nova Iorque. Os jornalões impressos, talvez a TV, ou apenas Nelson Motta, e blogs especializados devem celebrar a efeméride. Sim, celebrar, porque mesmo que o concerto tenha sido um primor de desorganização, o efeito que causou na música americana, sobretudo no jazz, foi devastador, no bom sentido. Poucos nomes de peso do jazz, e do pop, não se aproximaram da BN. Incluindo Elvis Presley que canta Bossa Nova Baby, no filme Amor em Acapulco, de 1963 (na verdade, um rock ‘n’ roll que cita a bossa nova). Até Paul McCartney compôs sua bossa nova, ou algo próximo a ela, Step inside Love, lançada por Cila Black, em 1967, mesmo ano em que Frank Sinatra dividiu um disco com Tom Jobim. Ou seja, três dos maiores, e mais importantes, nomes da música pop do século 20, ou seja, o fino da bossa.
Não é de estranhar que, pelo menos, 90 por cento dos álbuns de bossa nova produzidos no Brasil, nos anos 60, estejam fora de catálogo, até mesmo de medalhões feito João Gilberto ou Tom Jobim. Em sites como o do Amazon, encontram-se LPs, relançados lá fora, alguns com preços salgadíssimos. O Getz/Gilberto (1964), que catapultou Garota de Ipanema, e a baiana Astrud Gilberto, para o mundo (tirando, em 1965, Yesterday, dos Beatles, do primeiro lugar no paradão da Billboard) custa, tão somente, 418 reais e 20 centavos. Gravaram homenagens ou tributos esparsos a BN neste 2022. O destaque é Bossa Sempre Nova, de Wanda Sá, exímia violonista e cantora de primeira linha, surgida no auge da bossa, em 1962, portanto completou 60 anos de carreira.
Felizmente esta escassez no Brasil em (re) lançamento de discos de bossa nova, e fartura em descaso por parte da gravadoras, é compensada pelos relançamentos de álbuns de bossa nova nos EUA. Tanto de americanos, entre outros, Stan Getz, Charlie Byrd, Dizzie Gillespie, Lionel Hampton, ou brasileiros como Laurindo de Almeida, Milton Banana, e até jogadas meio oportunistas como a do Ases do Ritmo, no LP Ritmos do Brasil, em que mistura Baião (Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira), com Chega de Saudade (Tom e Vinicius). Foram conceituais sem intenção. As duas músicas deram a largada para dois movimentos seminais na MPB, o forró e a bossa nova.
O melhor nesses relançamentos são as coletâneas, como Bossa Nova em Nova York, e Bossa Nova in USA. Ambos reforçam a asserção do tsunami de notas dissonantes que tomou conta dos Estados Unidos (e de lá o planeta). O primeiro contém 42 faixas de brasileiros e americanos, Sergio Mendes, Maysa, Carlos Lyra, Sylvia Telles, João Gilberto, com Herbie Mann, Cannonball Adderley, Bud Shank, Charlie Byrd e por aí. Curiosamente, a capa mostra Astrud Gilberto (chegando de viagem), que não foi incluída na compilação.
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