Mesmo que não tivessem deflagrado um movimento, as transgressões de Gilberto Gil e Caetano Veloso, e m1967, no III Festival da Música Popular Brasileira, da TV Record, por si só, abalaram tanto a turma da MPB, quanto a do iê-iê-iê. Depois de Domingo no Parque e Alegria. Todo mundo se perguntou: “E agora?” Da Jovem Guarda, o primeiro a atentar para a inevitabilidade das mudanças foi Erasmo Carlos. Embora radicalizar, ele há um grande salto estético entre o LP O Tremendão, de 1967, e Erasmo, de 1968.
Em Erasmo some a juvenilidade que marca seus quatro primeiros LPs, ele gravou com os grupos Os Tremendões e Os Wandecos, mas com arranjos menos roqueiros, um deles assinado pelo maestro Laércio de Freitas, Um disco que surpreendeu os fãs, inclusive com a capa, que mostra o cantor, meio oculto entre a vegetação, meio psicodélico. Curioso é que o álbum contém cinco parcerias da grife Erasmo/Roberto, mais uma assinada apenas por Erasmo, e nenhuma chegou às paradas. O disco contou com a participação de Tim Maia, no backing vocal (em Baby Baby) e como autor de uma faixa (Não Quero Nem Saber).
Carlos Erasmo, de 1971, caiu nas graças da geração abaixo dos 40, sobretudo a que nasceu nos anos 90. É sem dúvida, um grande disco, com Erasmo totalmente antenado com a cena alternativa da época do desbunde. Com 51 anos em 2022, Carlos, Erasmo não nem um pouco ficou datado. Soa como recém-gravado. Porém Erasmo Carlos apontava que o LP anterior já trafega por este novo caminho, e era um dos preferidos da sua obra.
Erasmo foi um fim de uma fase, o último disco que fez na RGE, e acena para outra estética, que está na sua estreia na Phillips, então a gravadora com o elenco mais seleto da MPB (selo dos doces bárbaros Caetano, Gil, Gal e Bethânia). Assim como a capa do álbum anterior, a de Erasmo Carlos e Os Tremendões, chegado às lojas em maio de 1970, não tem a ver com o roqueiro da fama de mau dos anos 60, mesmo que o título do disco passasse a impressão de que o Tremendão estava de volta.
Erasmo vinha do maior sucesso de sua carreira, Sentado à Beira do Caminho, que estourou em 1969, país afora. Uma canção que expressava a perplexidade de cantor que viveu uma espécie de beatlemania nacional, a jovemguardamania, que foi da terra ao firmamento em 1965, mas que só duraria três anos. Erasmo Carlos (assim como Roberto Carlos), estava com 28 anos quando o programa Jovem Guarda na TV Record terminou. Tinha que correr atrás. Sentado à Beira do Caminho falava disso. A música foi composta em cima de Honey, megahit com Bob Goldsboro em 1968 (composta por Bobby Russel). No Brasil, emplacou tanto no original, quanto na versão, de Fred Jorge, com Moacir Franco, lançada também em 1968.
Erasmo contou ao produtor e pesquisador Marcelo Fróes, responsável pelo relançamento em CD da discografia de Erasmo na RGE, que ele e Roberto a tinham composto “em cima da harmonia de Honey”. Esta sequência de acordes foi empregado por Roberto Carlos em mais canções posteriormente, inclusive em Detalhes, e em Vou Ficar Nu Pra Chamar Tua Atenção, faixa de destaque do disco de 1970.
Erasmo e Os Tremendões coloca no mesmo nicho Caetano Veloso (Saudosismo), Ary Barroso (Aquarela do Brasil), Antonio Adolfo e Tibério Gaspar (Teletema), Vitor Martins (Gloriosa, com Sérgio Fayne, e Jeep (com H.Denis), o quase tropicalista baiano Piti (Espuma Congelada), e a música mais, digamos, bizarra de Roberto Erasmo, o I’m the Walrus da dupla, A Bronca da Galinha (Quando Viu o Galo com Outra). Mas o grande sucesso do disco foi a descontraída Coqueiro Verde (com Toquinho no violão), samba rock, que cita Leila Diniz, e o semanário O Pasquim. Erasmo se enturmando em Ipanema.
O citado Marcelo Fróes promoveu, em 2005, o relançamento da discografia de Erasmo Carlos na RGE, numa caixinha, intitulado O Tremendão, com faixas bônus, pelo seu selo, o Discobertas. Em Erasmo, acrescentou um antológico rock de Erasmo Carlos, Johnny Furacão, lado B do compacto com Sentado à Beira do Caminho. Dois discos de Erasmo Carlos que merecem se reavaliados.
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