Jimi Hendrix completaria 80 anos neste domingo, 27 de novembro. Mais um astro do rock que se foi com 27 anos (em setembro de 1970 a dois meses dos 28). Não se sabe o que seria de Henrix se Keith Richards não tivesse uma namorada em Nova Iorque, Linda Keith. Certamente seria reconhecido, mas qual seria sua trajetória? Londres mudou o rumo de sua vida. O acaso mais umavez fazendo das suas. O baixista Chas Chandler, que estava saindo de The Animals, e pretendia ser empresário, soube por Linda que havia um ótimo guitarrista tocando no Village, no Café Wha, seu nome era Jimmy James. Isto em meados de 1966. Chandler foi com Linda conhecer o guitarrista. Conversaram, e ele foi convidado pra ir à Inglaterra.
Jimi Hendrix perguntou se Chas Chandler conhecia Eric Clapton. Conhecia, claro, Chandler fazia parte da nobreza do rock inglês (embora estivesse em meio a última turnê com The Animals). Hendrix perguntou se, caso aceitasse ir para Londres, seria apresentado a Clapton. Chandler disse que quando Eric o visse tocar ele é quem iria querer conhecê-lo. Até então Jimi Hendrix só tocava, não gostava da sua voz. Foi Chas Chandler quem o convenceu a cantar,
Chas Chandler tinha ouvido recentemente uma canção chamada Hey Joe, com Tim Rose, até pensou em sugerir a música aos integrantes de The Animals. Por coincidência Jimi Henrix tocou naquela noite uma versão prolongada, instrumental, de Hey Joe. Com ele estava outro guitarrista, de 15 anos, Randy California. Para quem não se lembra, Randy depois tocaria no Spirit, e é dele Taurus, um sucesso menor do grupo (em 1968), cuja introdução foi plagiada por Jimmy Page e usada em Stairway to Heaven, do Led Zeppelin.
A primeira ação de Chas Chandler foi mudar o nome Jimmy James para Jimmy Hendricks (seu nome de batismo era James Marshall Hendricks). O guitarrista decidiu-se por Jimi Hendrix. Depois de terminar a turnê, os companheiro de banda voltaram para Londres, e Chandler permaneceu em Nova Iorque para cuidar da papelada de Hendrix, que não tinha documento algum. Passaram cinco semanas circulando pela cidade. Chandler lembra que emprestou ao guitarrista um livro de ficção científica intitulado Earth Abides, de George R.Stewart. Segundo o empresário do guitarrista, ele passou a ser aficionado por este gênero literário, e dele tirou muitas ideias para letra de música.
Jimi Hendrix chegou em Londres em setembro de 1966, com receios, não sabia como os músicos ingleses, então frequentadores das paradas americanas, iriam recebê-lo. Foi levado para a casa de Zoot Money, cujo órgão Hammond pode ser escutado em dezenas de discos de intérpretes e bandas inglesas da época. Alá se encontravam vários músicos. Logo encetaram uma jam session que durou mais de três horas. Hendrix foi aprovado pela turma. Depois de duas semanas circulando pelos clubes da capital inglesa. Chas Chandler que ainda estava ligado ao The Animals recebeu, em seu escritório, um rapaz se oferecendo para uma vaga no grupo (que tinha sido anunciada nos jornais). A vaga estava preenchida, mas havia outra na banda que ele montava para Jimi Hendrix.
O rapaz era guitarrista, Chas Chandler perguntou se ele poderia tocar contrabaixo. Noel Redding topou. Neste ínterim, o baterista Mitch Mitchel tinha saído do Blue Flame, banda que acompanhava George Fame, grande nome do soul britânico. A primeira vez em que Jimi, Noel e Mitch tocaram juntos foram quatro horas de jam. Curiosamente, o primeiro músico conhecido com quem Jimi Hendrix tocou foi Johnny Halliday, o Elvis francês, que o contratou para uma turnê. Na volta, Jimi Hendrix com o futuro Experience (ainda sem nome) gravou Hey Joe. Chas Chandler levou o acetato à Decca, que o recusou. Ou seja, quatro anos depois de ter rejeitado os Beatles, a gravadora agora perdia a oportunidade de ter o maior dos guitarristas dos anos 60 no seu cast.
Mas Jimi Hendrix não ganhou a Inglaterra num piscar de olhos. Demorou algum tempo. Com pouca grana, Chas Chandler (que desligou-se do Animals) vendeu cinco das seis guitarras que possuía. Com o dinheiro, bancou um show, num clube chamado Bag O’Nails, e convidou a nata dos músicos e empresários para assisti-lo. O Jimi Hendrix Experience foi contratado abrir para o New Animals, reformulado e com novo empresário. Foi a partir daí que Hendrix foi formatando suas performances incendiárias, que deixava plateias estupefatas. Mas ainda houve um percalço. Num dos shows, ele rachou uma Fender. Que trouxe com ele na viagem. O empresário teve que vender seu único contrabaixo para comprar outra guitarra.
Lançado pelo selo Track, de Kit Lambert, empresário de The Who, Hey Joe estourou nas paradas inglesas na mesma semana em que ele quebrou a guitarra. Por obra e graça de Chas Chandler que saiu por Londres vendendo o compacto mão a mão, já que as rádios não tiveram interesse em tocar. Mas Jimi Hendrix já se tornara figura comentada nos meios musicais. As mais famosas e importantes estrelas da cena londrina acorriam aos clubes onde ele tocava, incluindo The Beatles e The Rolling Stones. No camarim de um desses clubes, o Upper Cut, Hendrix compôs Purple Haze, seu segundo hit.
A primeiro guitarra incendiada por Jimi Hendrix foi durante uma turnê com o grupo Walker Brrothers, um trio americano que fez muito sucesso mundo afora com baladões melosos. Os irmãos Walker, não eram irmãos, não tinham este sobrenome, e nada a ver com a música de Jimi Hendrix. Enquanto esperavam no camarim para o Jimi Hendrix Experiência adentrar o palco, Chas Chandler e o jornalista Keith Altham pensavam numa ação pra o guitarrista reforçar seu show, que já causava furor. Como Jimi tinha uma canção nova, Fire, Altham sugeriu que tocasse fogo no instrumento. Deram-lhe fluído para isqueiros. Hendrix ficou de costas para o palco, por cerca de cinco minutos, riscando fósforos atrás de fósforos até que a guitarra se inflamasse. Deu confusão com o dono do teatro, e com o Walker Brothers que exigiu que as performances do guitarrista fossem “normais”. Participaram também da turnê o iniciante Cat Stevens, e o cantor romântico Engelbert Humperdinck. Mais bizarro somente a turnê que Jimi Hendrix fez com The Monkees.
Ele nunca fez concertos “normais”. A partir de então a imprensa focou nas performances de Jimi Hendrix, que passou a abusar do feedback como ninguém fizera antes. Provocava o feedback com duas cordas, e solava com as demais. É certo que Pete Townshend do Who, Jeff Beck e os Beatles (na abertura de I Feel Fine) valeram-se antes do feedback. Mas segundo Chas Chandler, até vir para Londres, de guitarristas ingleses, Jimi Hendrix só ouvira Eric Clapton. Então veio o festival pop de Monterrey, em1967.
Paul McCartney, que colocou dinheiro no festival, praticamente impôs que Jimi Hendrix participasse. Ele continua desconhecido nos Estados Unidos. Brian Jones, dos Rolling Stones viajou para a Califórnia apenas para apresentar o guitarrista no palco. A estreia do Jimi Hendrix Experience nos EUA entrou para a história. Soltaram bombas de fumaça no palco (uma novidade então), Jimi incendiou mais uma guitarra. Mexeu tanto com o público que The Mama and The Papas, o ato seguinte, esperou quase uma hora para que a plateia se acalmasse, a fim de adentrar o palco. O resto é um capítulo dos mais importantes da música popular do século 20.
(texto escrito a partir de um relato de Chas Chandler ao jornal americano Creem em 1973).
Deixe um comentário