Na pequena temporada da turnê Que tal um samba? que vai até esse sábado, 10 de dezembro, no Teatro Guararapes, Chico Buarque fez uma apresentação nos moldes dos anos 60, quando o artista cantava um repertório de canções preferidas do distinto público. Claro, o show não deixou de ter um viés político, culminando, perto do final, com a plateia entoando o corinho de “olê olê/olê, olá/lula lá/lula”. Mônica Salmaso já na abertura, cantou um samba (no original meio amaxixado) que remonta ao conturbado 1968, Bom Tempo, que classificou-se em 2º lugar na I Bienal do Samba, vencida por Lapinha, de Baden Powell e Paulo César Pinheiro.
Na época, tempos de patrulhamento ideológico, Chico foi alvo de algumas críticas, por preconizar “bom tempo” num momento em que o regime militar recrudescia, a polícia a cavalo dispersando passeatas estudantis, que pipocavam nas principais cidade brasileiras, o clima cada vez mais tenso. 54 anos depois, Bom Tempo cai como uma luva nas mudanças que começam a se processar no Brasil.
Mônica cantou solo por 20 minutos, quando Chico Buarque adentrou para concluir o baião Paratodos com ela que, aliás, não foi apenas a convidada especial da turnê. A voz extraordinária de Mônica Salmaso pontua o show até o final. Como não está atrelado a um disco recém-lançado, Chico Buarque fez a plateia, que lotou o teatro, deleitar-se com canções clássicas da sua obra, algumas que frequentam pouco seu repertório de palco. Sabiá (com Tom Jobim), João e Maria (parceria com Sivuca), Noite dos mascarados (em dueto com Monica Salmaso), Deus lhe pague, Meu guri, De todas as maneiras, Beatriz (com Edu Lobo), Maninha (dedicada a Miúcha, falecida em dezembro de 2018). Prestou também uma homenagem a Gal Costa, com Te Perdoo.
Ao contrário de shows de discos, este de Que tal um samba permite mudanças no repertório, e descontraídos comentários que aludem a determinados fatos. A juíza Mônica Ribeiro Teixeira, que pôs em dúvida, num processo movido contra Eduardo Bolsonaro, que Roda viva seja de autoria de Chico, e os que disseminaram na Internet, como se fosse verdadeira, uma brincadeira de Chico num vídeo de 2006, making of do álbum Carioca (dirigido por Bruno Natal), em que faz um chiste, dizendo que compra composições de um tal Ahmed.
Um acorde errado numa canção foi o mote para uma sutil alfinetada na magistrada, e nos disseminadores de fake news: “Às vezes posso me atrapalhar com os acordes, ou esquecer um pedaço de letra. Pensei até em instalar um teleprompter. Mas ia dar errado, porque as pessoas são maldosas. Iam dizer que se eu não sei tocar, não sei cantar (porque às vezes perco a voz) as minhas músicas, é porque não sou o autor. Percebi um burburinho na Internet dizendo que não sou compositor das minhas músicas. O compositor de verdade seria um tal de Ahmed. Fiquei injuriado. Fui no Instagram e encontrei a foto de Ahmed, pequeninha, peguei a lupa e sabem quem é Ahmede? Chico Batera”, diz apontando para o percussionista da banda
Aliás, a banda também é ponto alto no show, até porque quase todos os integrantes tocam com chico há três décadas: o maestro Luiz Claudio Ramos (arranjos, guitarra e violão), João Rebouças (piano), Bia Paes Leme (teclados e vocais), Chico Batera (percussão), Jorge Helder (baixo acústico e elétrico), Marcelo Bernardes (sopros) e Jurim Moreira (bateria).
Um show para cantar junto, abrangendo todas as fases de Chico Buarque, enriquecido pela voz privilegiada de Mônica Salmaso, que reforça a qualidade da obra autoral dele, que incursionou pela música dos amigos ao cantar Que tal um samba? Cantou trechos de O Samba da Benção (Baden Powell e Vinicius de Moraes), e O Samba da minha terra (Dorival Caymmi). Que tal um samba? merece um slogan da era do rádio: diversão garantida ou seu dinheiro de volta. (foto: Clarissa Barros)
Chico é maravilhoso de qualquer jeito, com mônica ficou melhor ainda , eu que fui ao show nos dias 08 e 09/12 ainda estou em êxtase de poder ver Chico, amor da minha vida, tão de perto , tão humano e mais imortal do que nunca . Viva Chico Buarque para sempre!!
CurtirCurtir
um show realmente impecável
CurtirCurtir