Núbia Lafayette foi a musa cool da MPB (Música Passional Brasileira)

Neste 2022, a cantora potiguar Núbia Lafayette completaria 85 anos. Faleceu há 15, em consequência de um AVC. Entre 1961 e 1966, foi uma das cantoras mais populares do país. Afinada, comedida mesmo ao elevar a voz, e com um timbre único que a identificava imediatamente. Na época de maior sucesso, Núbia Lafayette não agradava à critica, sem piedade con artistas de grande penetração entre as camadas mais pobres ou suburbanas.
Não se usava o termo “brega” como substantivo ou adjetivo para designar um música, digamos, menos requintada. “Brega” era sinônimo de “zona” em alguns estados do Nordeste. Intérpretes do nicho de Núbia cantavam o que pejorativamente classificam “música de zona”. Uma associação que acabou com brega virando rótulo de uma música de romantismo derramado, passionalismo exacerbado, e interpretações que não se pautavam pelo que se considerava como bom gosto.
Mas nos primeiros anos da década de 60, a música de zona não era assim tão sem requinte. Pegue-se como exemplo o LP Noites sem Fim (1965), de Núbia Lafayette, uma cantoras cujos discos consolavam e confortavam  a dor de corno de homens e mulheres Brasil afora.
No entanto, Noites sem Fim tem arranjos orquestrais sofisticados. O repertório pode até comportar canções que ressoavam bem nos cabarés. A Última Loucura é uma delas. Porém os autores, Raul Sampaio e Benil Santos, não são estão na prateleira do brega. O primeiro é autor de, entre outros clássicos,  Meu Pequeno Cachoeiro, gravada por Roberto Carlos. As duas faixas seguintes poderiam estar deslocadas num album de uma cantora povão. São elas: Carinho Perdido, de Capiba, e de Lamento de Adeus,  Normando e Vinicius de Moraes. Não estão. Como não estariam num disco de João Gilberto. Aliás, o recifense Normando (Santos) é bossa-novista de primeira hora, morou com João Gilberto no comecinho do movimento.  Pelo fato de ter ido pra Paris em 1966, onde mora até hoje,  é pouco lembrado pelos historiadores da bossa nova. A música que fecha o album, Dentro da Noite, é também de Normando (em parceria com Edson Borges). Infelizmente, nem capa nem contracapa trazem créditos, nem mesmo do regente da orquestra da RCA Victor, talvez Lyrio Panicalli, Radamés Gnatalli ou Leo Peracchi.
Núbia Lafayette foi a intérprete cool da MPB, Música Passional Brasileira. O mau gosto de muito bom gosto. Este e outros álbuns de Núbia estão disponíveis no Spotfy e afins.

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