Luiz Gonzaga: no aniversário de 110 anos, poucos discos em sua homenagem, pelo preço proibitivo da liberação das músicas

Nos 110 anos de Luiz Gonzaga, não se pode dizer que ele esteja esquecido, mas sua memória não é tão reverenciada o quanto merece. A discografia oficial, quase toda, encontra-se fora de catálogo, pelo menos em disco físico (por que não se aproveita a onda do vinil, para se relançar LPs de Gonzagão?).

Grava-se Luiz Gonzaga cada vez menos, a não ser em CDs toscos, em capinhas envelope, por forrozeiros obscuros. Gravar Luiz Gonzaga oficialmente custa caro. As editoras que controlam sua música cobram os olhos da cara pra liberação de um fonograma (o que, de resto, acontece com a maioria dos autores da velha guarda da música brasileira). Quase não se grava mais Capiba, ou Ary Barroso, por exemplo.

Sem os discos disponíveis, tocam-se quase sempre as mesmas e óbvias músicas do Rei do Baião, da enxurrada de músicas, dezenas de gêneros, que ele gravou. Felizmente, os mais jovens, com acesso às plataformas de música digital, pode escutar boa parte da música do artista mais influente da história da música popular brasileira. E aqui não tem hipérbole, ou mania de grandeza pernambucana.

A música de Luiz Gonzaga está em todos os grandes autores da MPB. Tem Luiz Gonzaga em Tom Jobim, em Edu Lobo, em Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Moraes Moreira, Djavan, Novos Baianos, Mutantes. Uma via de mão única. A música desses gigantes da MPB não está na obra de Luiz Gonzaga (como influência). Difícil encontrar artista brasileiro que não tenha gravado algum ritmo nordestino estilizado por Gonzagão, ou mesmo sambas ou rancheiras, embutido na sua caudalosa obra.

Aliás, injustiçados nessa obra são seus muitos parceiros. A cada vez que se toca Luiz Gonzaga no rádio creditam a canção a ele. Raramente citam-se os seus parceiros (foram mais de duas centenas). A maioria do que Gonzaga gravou é do parceiro, que, que se sempre, lhe cedia parceria (o que também acontecia com Jackson do Pandeiro, entre outros). Uma prática comum no passado, com a diferença que Lua dava o retoque final na composição, arranjava, enxertava alguma palavra ou verso, arrematando com uma interpretação matadora. Quem o regrava esforça-se para sair desta moldura criada por ele.

Luiz Gonzaga é uma enciclopédia de Brasil, e da nordeste em especial. Em sua obra ele fala de tudo, de profissões, fauna, flora, comidas, bebidas, amores, comportamento, política, problemas sociais, erotismo, o escambau. Sim, erotismo, Karolina com K é a música mais erótica da MPB. E tem muito mais que isso na discografia de seu Luiz.

P.S – este texto é um remake de um que publiquei nos 105 anos de Luiz Gonzaga. Difícil não resvalar para a redundância escrevendo sobre ele.  

4 comentários em “Luiz Gonzaga: no aniversário de 110 anos, poucos discos em sua homenagem, pelo preço proibitivo da liberação das músicas

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  1. Teles,

    Quando você menciona Luiz Gonzaga é uma enciclopédia de Brasil, e da nordeste em especial, completamente no ostracismo devido à insensibilidade dos homens que detêm os direitos autorais de suas músicas e por isso mesmo proíbem que novos forrozeiros as regravem, também me vem à lembrança nosso mestre, o sociólogo das putas do Mercado de São José, Liêdo Maranhão.

    Com muitos livros lançados e nenhuma referência escrita à sua importância como pesquisador popular.

    Uma pena!

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  2. Que texto maravilhoso. Na sua ânsia, os detentores da indústria musical preferem não ganhar nada do que ganhar pouco. Com isso, nós é que perdemos. Esse esgotamento de relançamentos do Rei do Baião encareceu demais qualquer dos seus álbuns, e veja que nem precisa ser lançamento original, mesmo os discos relançados pela RCA Camden (entre as décadas de 70 e 80) estão cotados a preços proibitivos. Felizmente, existe um bom material disponível nas plataformas de streaming para de vez em quando eu colocar meu pequeno para dormir com uns forrós do Gonzagão.

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