Djangada, trio formado por um inglês e dois brasileiros, presta reverência a Dorival Caymmi em disco instrumental

Falecido em 2009, aos 94 anos, Dorival Caymmi é um dos pilares sobre o qual se assenta a música popular brasileira, transcorridos 14 anos de sua morte, até que se tem gravado o cancioneiro do compositor baiano, apesar dos preços que as editoras cobram pela liberação das músicas. No entanto, discos seus originais estão fora de catálogo. No site da Amazon encontram-se quase que unicamente coletâneas, algumas bem interessantes, como um songbook lançado pela Lumiar, quatro CDs gravados por vários grandes nomes da MPB entre 1993 e 94.

Feito o preâmbulo é, portanto, bem recebido o álbum do trio Djangada Vol.1 Caymmi, na verdade mais pra EP, com seis faixas, na edição digital, e oito no disco físico. O disco sai pelo Peixe Podre, nome meio esquisito, sobretudo porque o Djangada gravou duas canções marinhas de Dorival Caymmi, e a capa, feita pelo artista plástica baiano Nova, evoca o mar e pescadores da Bahia. O trio é formado por um inglês, o pianista Sam Watts, e dois brasileiros, que atuam na Europa, o baixista Matheus Nova, e o baterista Marcinho Pereira, este último com uma folha de serviços extensa, que vai de Caetano Veloso e Marcos & Belutti.

Sam Watts é um dos inúmeros gringos mais fissurados na música popular brasileira, digamos, clássica, veio muitas vezes ao Brasil, e o “Vol.1” no título do disco indica que deve vir por aí, pelo menos, mais um volume. Que venha, porque o defeito deste primeiro é ter apenas 20m37s de duração. O Djangada é um trio de jazz, mas a interpretação dos temas não emprega o ímpeto dos combos de samba jazz dos anos 60, que chegaram a ser criticados por João Gilberto numa entrevista ao Jornal do Brasil, em 1966, quando lhe foi perguntado sobre a música chamada então de samba jazz: “É pretensiosa, e até superada, porque estão querendo fazer um tipo de jazz que foi feito há uns 20 anos nos Estados Unidos, e porque, além de tudo,  o fazem mal”..

O Approach aqui talvez fosse aprovado por João, pois é mais para o tocar comedido de Oscar Peterson ou Bill Evans, com Sam Watts enfatizando as melodias simples e engenhosas de Caymmi, com dois músicos que sabem bastante de MPB. Todos os temas são instrumentais, com os improvisos também comedidos, mas estão presentes em todas as faixas, Pescaria é um dos melhores, o trio imprime um suingue contagiante à música, com destaque para o contrabaixo.

 As composições são bem manjadas. Além das marinhas, a citada Pescaria, Bem do Mar, as crônicas urbanas de seu Dorival, A Vizinha do Lado, São Salvador, Saudade da Bahia e Vatapá. Mas vale ressaltar que o álbum do Djangada foi feito para o público gringo. Uma iguaria refinada, disponível nas plataformas digitais.    

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