João Gilberto desfez a imagem de complicado, genioso, chato, e outros adjetivos afins, nos dois concerto que apresentou na reinauguração do Teatro Santa Isabel, no Recife, em 14 e 15 de dezembro de 2000. O Teatro recebeu mais uma reforma em maio daquele ano. João cantou Capiba, o Hino Nacional, brincou com a plateia, ao sentir cheiro de fumaça de cigarro (devia ter também olfato absoluto. Não havia ninguém fumando no teatro). Duas noites memoráveis. A gravação vazou, e disseminou-se por blogs, sites de troca de ficheiros musicais, copiada de amigos para outros, e desses para mais amigos.
Agora aterrissou no Spotfy, na véspera do natal, com selo Ipanema Records, com o título João Gilberto ao Vivo em Recife, 69 minutos de puro deleite. Foi como se ele estivesse num grupo de amigos, ou tocando sozinho na sala do apartamento em que morava no Leblon. Mostrou seu enciclopédico conhecido da música brasileira, com uma excepcional interpretação de Odete, de Herivelto Martins e Dunga, ou de um samba canção de Tom Jobim, Solidão, lançado em 1954, por Nora Ney, lado B de um 78 rotações, com o lado A ocupado pelo inusitada Duas Lacraias, samba canção passional de João de Barros.
Foram dois shows longos, para os padrões do cantor, fechados por Não Vou pra Casa, de Antonio Almeida e Roberto Riberti, lançado em 1940, por Joel e Gaúcho. Ele gravaria este samba no disco que lançou em 2000, João, Voz e Violão, produzido por Caetano Veloso. O repertório tem poucos dos seus sucesso iniciais, dos clássicos da bossa nova apenas Chega de Saudade (Tom e Vinicius) e Samba de Uma Nota Só, e Discussão (ambas de Tom Jobim e Newton Mendonça).
Enfim, dois showzaços. Quem não os viu, pode ouvi-los agora com ótima qualidade sonora. Mas perguntar não ofende, o Ipanema Records recebeu autorização para lançar o álbum nas plataformas de streaming?
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