Inauguro neste 1º de janeiro de 2023, uma coluna dominical pro frevo aqui no telestoques, a É Frevo Meu Bem.
Nada melhor pra começar o ano do que um disco de frevo. Melhor ainda com um grande disco de frevo. No meu caso, o Trumbicando, com orquestra dirigida pelo maestro limoeirense Severino Araújo (o da Orquestra Tabajara), com orquestra e coro RCA, coordenação artística de Rildo Hora, e direção artística de Romeu Nunes. Com Severino Araújo à frente não tinha como dar errado. E dá ainda mais certo pelo repertório de frevos de rua e canção, assinado por uma constelação de compositores já veteranos (o disco é de 1970), responsáveis por vários clássicos do gênero.
“Quousque tandem, Catirina, abutere patientia nostra?” paráfrase de um discurso do cônsul romano Marco Tulio Cícero, contra o senador golpista Catilina (63 A.C) abre o frevo-canção Catirina, Meu Amor, composição pouco lembrada de Capiba, provavelmente pelo verso em latim. Esta, a faixa inicial do LP, com selo RCA Camden. Só Capiba para empregar o latim com um personagem do cavalo-marinho.
Em 1970, o Carnaval do Recife recolhera-se aos clubes, com as agremiações enquadradas nos desfiles de passarela. A Rozenblit já não tinha o mesmo poder de fogo e, pelo visto a RCA não divulgou muito bem este LP por aqui. Tanto que as 12 faixas do disco quase não são tocadas nos dias atuais, apesar da qualidade das composições. O frevo canção Se É Tempo de Frevo, de Aldemar Paiva e Nilton Fonseca, é daquelas feitas pra tocar no rádio, e nos salões. O mesmo para Como Vai de Amor, de Gildo Branco e Alcides Leão. Nenhum desses emplacou. Dos frevos canção, apenas Pertinho Dela, de José Menezes e Gildo Branco, vez por outra ainda toca. Assim como O Resto É Resto, de Mario Griz e Luiz Cavalcanti, com um refrão chiclete.
Tampouco emplacaram os frevos de rua, como Capiroto, Alcides Leão, Recordando Levino, Zumba, Trumbicando, um frevo inovador de Guedes Peixoto, que entrou aqui com mais um frevo instrumental, Suzy. O maestro José Menezes faz-se presente com o ótimo Cara de Pau, e o maestro Clóvis Pereira com o inspirado Capiba no Frevo, que deveria entrar no repertório das orquestras de frevo, uma composição de melodia assoviável, seguindo todas as regras do frevo de rua.
Ressalte-se o andamento mais lento dos frevos instrumentais. Entrevistei uma única vez o maestro Severino Araújo, estava prestes a completar 90 anos (morreria com 95, em 2012), e ele comentou que a principal diferença pro frevo do seu tempo, e daquela época (2007) era a velocidade. Criticava o aceleramento com que passaram a executar os frevos de rua. O que logo aconteceria com o frevo canção, certamente por influência dos frevos de Caetano Veloso, Atrás do Trio Elétrico ou Chuva, Suor e Cerveja são marchas frevo aceleradas, e com letra.
Trumbicando, assim como quase todos os LPs de frevo dos anos 60 e 70 estão fora de catálogo. A Rozenblit reeditou parte do seu acervo em formato digital e disponibilizou nas plataformas de música digital. A RCA ou Odeon, detentoras de um fornido catálogo de frevo, não tem interesse em relançá-los.
Repertório de Trumbicando
Catirina, Meu Amor (Capiba)
02. Capiroto (Alcides Leão)
03. Se É Tempo de Frevo (Aldemar Paiva / Nilton Fonseca)
04. Suzy (Guedes Peixoto)
05. Como Vai de Amor (Gildo Branco / Alcides Leão)
06. Recordando Levino Ferreira (Zumba)
07. Trumbicando (Guedes Peixoto)
08. Pertinho Dela (José Menezes / Gildo Branco)
09. Cara de Pau (José Menezes)
10. Você Está Chorando (Capiba)
11. Capiba no Frevo (Clóvis Pereira)
12. O Resto É Resto (Mário Griz / Luis Cavalcanti)
Ótima idéia!
Prata da casa, só fervendo!😜
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então!!!
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Alô Teles, show maravilhoso de escrito sobre o frevo, parabéns! Só me deixou com água na boca pra ouvir uma provinha musical do descrito, mas não rolou! Babei…
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discos de frevo gravados até os anos 70 são quase todos raridades. Ontem passei horas procurando uma música citada por Claudionor Germano
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