Roberta Sá aproxima-se do sambão popular com requinte, leveza e despretensão

A potiguar Roberta Sá (desde a adolescência no Rio) é uma das melhores cantoras em atividade na MPB. Não é cult, nem hype, tampouco popular. Certamente pela forma despretensiosa e discreta com que toca a carreira. É uma espécie de Dóris Monteiro versão século 21. Ambas comungam de registros vocais assemelhados, muita ginga, extremo bom gosto para embalar uma canção, e versatilidade. Roberta Sá se assume sambista em Sambasá (Deck). Num disco com capa de belo e fauvista colorido (foto de Pedro Bucher), ela canta sete sambas, parte deles fatiada em singles desde agosto do ano passado (o álbum foi lançado no início de dezembro de 2022).

Um trabalho no qual caberia o título de Remodelando o Pagode, já que o repertório tem o viés do samba de massas. Nada de revisitar medalhões da MPB, ou os venerandos compositores que contribuíram para formatar o gênero nos anos 30. Roberta optou pelo estilo Zeca Pagodinho, o samba povão, mas com roupagem de dia de festa (quase sempre produzido pelo mestre na matéria, o músico e produtor Rildo Hora). Não por acaso, o próprio Zeca participa da faixa, Pago Pra Ver (Nelson Rufino / Toninho Geraes), gravada pelo sambista de Xerém há vinte anos (no Acústico MTV).

De releituras, a melhor é Sufoco, um clássico do repertório de Alcione (de Antonio Castro/Chico da Silva), reforçado pela igualmente reforçada presença de Péricles, e uma antológica introdução do violão de Gabriel de Aquino (também co-produtor musical). A faixa final fecha o conceito de Sambasá, que se pretende uma requintada roda de samba. Intitula-se apropriadamente A Roda (Wanderley Monteiro/Deco Romani), e já fora gravado por Deco Romani (no álbum Letras, Melodias e Amigos, 2020). Destaque para as faixas Antes Tarde (Nego Álvaro/Marques Maia), e Luz da Minha Vida, samba de levada contagiante, e melodia que permanece com a gente quando termina (de Toninho Geraes/Chico Alves).

Ressalte-se o azeitado grupo que acompanha a cantora. Além do citado Gabriel de Aquino, formado por Alaan Monteiro (cavaquinho e coro), André Manhães, (bateria), Bruno Gama (pandeiros, caixa e agogô), Jéssica Araújo (tantan, tamborim, congas e caixa), Kiko Horta (piano e sanfona), Marfa (baixo), Thiaguinho Castro (surdo, caixa, repique de mão e ganzá). Coro (o popular backing vocal), com Camila Monteiro, Felipe Abreu e Jussara Lourenço, A produção e arranjos de Sambasá é de Alaan Monteiro.

Não fiz lista de melhores do ano de 2022, mas este disco de Roberto Sá com certeza estaria entre os meus destaques do ano que passou, receita bem dosada de bom gosto, refinamento, e interpretação irrepreensível.

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