Frevo e suas histórias: Recife ‘ue Beleza, frevo canção de Capiba que deveria voltar a ser cantado no carnaval

O repertório cantado no Carnaval é como se todos os intérpretes combinassem em cantar as mesmas músicas. Entra ano e sai ano e estão lá os mesmos sucessos de Capiba, J.Michiles, Alceu Valença (que canta mais suas música de meio de ano), Luiz Bandeira, uma ou outra de Carlos Fernando e por aí vai.

Há centenas de frevos canção que caíram no esquecimento, porque não são mais cantados. Morena Azeite, por exemplo, de Severino Luiz Araújo (falecido no ano passado), foi um grande sucesso em 1983. Foi defendida por Expedito Baracho no festival Frevança, mas caiu na boca do povo quando foi gravada por Claudionor Germano. Um frevo que precisa voltar a ser cantado no carnaval.

Recife, que Beleza, de Capiba, é uma bela ode ao Recife que também caiu na obscuridade. Alguém aí se habilita a recuperá-la?

Aliás, esta música tem uma história engraçada que tem a ver com a dicção peculiar de Capiba, que era o que se chamava de “tato”. Falava suprimindo o som do “q”, e do “c” no início das palavras. Certa vez Claudionor foi à casa do compositor para ele lhe ensinar um frevo-canção que pretendia incluir no disco que estava gravando para a Som Livre/Sigla (O Bom do Carnaval, 1985).

Claudionor conta que aprendeu a música e foi embora, mas não direto pra casa. Lembrou-se então que esquecera o nome do frevo. Isto aconteceu, claro, quando não existia ainda celular. Ligou de um telefone público, de ficha, pra casa, e pediu que sua mulher ligasse pra Lourenço da Fonseca Barbosa e perguntasse o título do frevo. Ela ligou e ele disse o nome:

 “‘Recife, ‘ue beleza’”. E ela: “Tá certo, seu Capiba. ‘Recife e beleza’”. E ele: “Não. ‘Recife, ‘ue beleza’”. E ela: “Tá bem, seu Capiba. Ouvi bem. ‘Recife e beleza’”. E Capiba, já se abufelando: “Não! ‘Recife, ‘ue beleza’”. “Certo, seu Capiba. Anotei aqui. ‘Recife e beleza’”. Aí ele perdeu a paciência e explicou: “Preste atenção. ‘uando você vê uma ‘oisa ‘ue acha bonita, ‘omo você diz?”. E ela: “Não sei. ‘Que beleza’?” E Capiba: “Pronto. ‘‘ue beleza’. ‘Recife, ‘ue beleza’”. E ela: “Ah, sim! ‘Recife, que beleza’”. E Capiba: “Isso! ‘Recife, ‘ue beleza.

(Na foto, o compositor Severino Luiz Araújo com Claudionor Germano, foto tirada, por mim, na Pracinha do Diário, nos 80 anos de Duda, em 2015).