Uma típica piada de salão de finais do século 19 publicada no Jornal do Recife (em 18 de julho de 1889) :
“Dois noivos num frege moscas:
– Lá vai, diz a noiva atrapalhada, caiu o bife no chão, e o cão vem comê-lo
– Não tenhas medo, diz galhardamente o noivo, tenho o pé em cima”
O empresário da noite recifense, Paulo Braz resgata a expressão frege, com a qual batizou a casa que inaugura nesta terça-feira, para convidados, na Avenida Rio Branco. O Frege, pois, o nome do seu novo estabelecimento etílico gastronômico, musical. Muita gente vai imaginar que “frege” se trata de palavra francesa. Pois saibam que vem de fritar, corruptela de frigir. Uma expressão muito antiga, pode ser constatada na imprensa já em meados do século 19.
A principio era “frege moscas”, restaurante chinfrim, um “mosqueiro”. Frequentavam os freges, obviamente, pessoas da classe situada no rodapé da pirâmide social. Lá em 1876, vizinhos denunciavam aos jornais um casal proprietário de um frege moscas localizado na Rua do Amorim: “Onde se frege também, e mesmo em mais abundância, a moralidade pública pois o patrão-mor dessa futrica, e sua Dulcinéia, são dois dos maiores desbocados que se conhece”.
Claro, nos freges não apenas se comia, como igualmente se bebia. Numa época em que peixeiras, facas e canivetes eram de uso quase obrigatório, as bebedeiras nos freges, não raro, acabavam em barrigas furadas. “Ontem às 4 e ½ horas da tarde, num frege moscas do Beco da Mindinha, no qual é associado o pardo Antonio Gomes de Barros, foi este ferido com uma faca na região umbilical pelo pardo de nome Manoel, carregador d’água” (no citado Jornal do Recife, em 11 de abril de 1880).
Por ser palco dessas ocorrências, frege passou, aos poucos, a significar barulho, confusão, festa de pretos e pardos em geral. Em 1903, denunciava-se que na Rua de Santa Tereza (em Olinda?) funcionava um frege onde se reuniam muita gente, com acompanhamento de violões “Haja modinha até alta madrugada. Na referida casa vendem-se além de feijoada, sarapatel etc, a esperital (sic) caninha, e aí está a razão das insuportáveis gritarias. Recomendamos semelhante estabelecimento à polícia local”.
Na década de 30, definitivamente, frege era esbórnia, até a loucura do carnaval. Numa notinha na coluna especializada na folia sobre o Bloco Peninha, formado por gente da imprensa, lê-se: “Cleophas de Oliveira resolveu não cair no frege e por isso vai fazer um retiro”. Mas também se aplicava a cabaré. “A Pensão Virou Frege”, é um título de uma nota policial, de 1927: “Na madrugada de ontem o maquinista do paquete Abaeté, Manoel Antônio, em completo estado de embriaguez, entrou na pensão Regina, à Rua de Santo Amaro, e começou a virar mesas, quebrar copos e dar em todas as mulheres que ali residem. Chamada a polícia, compareceu o comissário Dário Celso, acompanhado do investigador Alves de Araújo, sendo então preso e recolhido ao xadrez o endiabrado machista” .
Isto posto, a partir desta terça-feira, para convidados, Paulo Braz inaugura o Frege de sua propriedade, e imprime-lhe novo significado, qual seja, casa frequentada por gente fina e elegante. Todavia convém manter o segurança atento, pro caso do endiabrado, supracitado, machista maquinista aparecer pra aprontar no novo Frege do Boulevard Rio Branco.
Texto maravilhoso! Parabéns
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valeu
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