Historinhas de música: Across the Universe, de John Lennon, foi rejeitada pelos outros integrantes dos Beatles

Mais um “causo” na never ending story dos Beatles. Por que a primeira versão de Across the Universe, de 1968, só foi incluída num álbum dos Beatles em 1970? A composição é de John Lennon, que a considera sua melhor letra. Os versos, comentou Lennon, formam um poema, com vida própria fora da melodia.

Os outros três beatles não pensavam assim, tanto que não se esforçaram muito nas sessões de Across the Universe, que foi inspirada, indiretamente pela primeira mulher de John Lennon, Cynthia. Ele contou que estava deitado ao lado dela, já estava envolvido com Yoko Ono, discutiam a relação). A música lhe veio como um clima de negatividade, ele foi armazenando letra e música na cabeça. Quando a mulher dormiu, continuou repetindo os versos “Words are flowing out like endless streams (grosso modo, “As palavras vão fluindo como intermináveis correntezas”). Fiquei meio irritado, desci as escadas, e foi feito tipo uma canção cósmica em vez de ‘Por que você está sempre ralhando comigo’?”

A letra da canção surgiu espontaneamente, e John diz que lhe foi dada. Ele só mexeu em umas poucas palavras. “A letra não é minha, ela veio a mim”. Os estudos dos Beatles com o guru Maharishi Mahesh Yogi levaram os quatro músicos a aprenderem algumas frases em sânscrito. Uma dessas foi “Jai guru Deva, om” versos de Across the Universe, significa “Vida longa ao guru Deva”. Lennon revelou numa entrevista à Rolling Stone que avaliou a canção como muito boa, porém não foi esta a opinião Paul, George e Ringo.

Across the Universe foi gravada, à noite, em fevereiro de 1968. E aí o Brasil entrou na história do quarteto. Concordou-se que precisavam de vozes que alcançassem notas altas para o refrão “Nothing’s Gonna change my world/nothing’s Gonna change my world”. Paul McCartney foi falar com as fãs que se postavam o tempo inteiro diante da entrada do estúdio da EMI, em Abbey Road. Fazia muito frio, as poucas que estavam ainda lá, tiveram acesso à antessala do estúdio.

McCartney perguntou quem conseguia cantar em tons altos. Duas disseram que sim. Uma se chamava Gayleen Pease, a outra Lizzie Bravo, ou melhor, Elizabeth Villas Boas Bravo, carioca que, em 1968, foi estudar inglês em Londres, mas o objetivo era ver os Beatles. Foi além disso. Imortalizou-se em Across the Universe. Curiosamente, Gayleen e Lizzie faleceram em 2021.

A versão original, no entanto, continuou não agradando. Lennon sugeriu que fosse lançada como próximo single dos Beatles. Lady Madonna, de Paul, foi a escolhida. Frustrado, John Lennon a doou para o álbum beneficente Nothing’s Gonna Change Our World, lançado em 1969, com renda revertida para a World Wildlife Fund, hoje World Wide Fund for Nature, que protege animais em perigo de extinção. Across the Universe foi resgatada pelo produtor Phil Spector, que lhe deu nova roupagem (excluindo o coro das duas fãs), e a incluiu no álbum Let it Be.

John Lennon achava a primeira versão uma péssima gravação de uma grande canção. “As guitarras estão desafinadas, eu canto desafinado, porque estava psicologicamente destroçado, e ninguém me ajudava, nem dava a mínima. Esta música nunca foi gravada como merecia”.

Across the Universe é considerada um clássico da canção popular do século 20, e já recebeu pelo menos três centenas de regravações.

(na foto, Gayleen Pease e Lizzie Bravo num reencontro em 2011).