J.Michiles, chega aos 80 anos, com a massa entoando o corinho: “Bom demais, bom demais , bom demais …”

Em 1966, um jovem compositor, de 23 anos, José Michiles da Silva, surpreendia a oligarquia da música pernambucana. Foi o vencedor do disputado concurso, promovido pela prefeitura da capital pernambucana, em parceria com a TV Jornal do Commercio. Recife Manhã de Sol, a música de J.Michiles, como ele é conhecido, passou por um funil pelo qual transitaram mais 119 composições. A surpresa porque seu frevo de bloco, também classificado como marcha rancho, ficou à frente de canções de monstros sagrados feito Nelson Ferreira, Capiba, com Ariano Suassuna, José Menezes e Carnera.

Claro,  a vitória do desconhecido compositor, (professor da Escola Industrial Agamenon Magalhães, na Encruzilhada) mexeu com os brios da elite, começando pelo escritor, médico, e também compositor, Valdemar de Oliveira, depois por um dos concorrentes, José Gonçalves de Oliveira, e por um poeta chamado Cilro Meigo, que insistiu nos jornais em apontar vários defeitos em Recife Manhã de Sol. A música foi gravada por Marcus Aguiar, ídolo do iê-iê-iê recifense, mas não aconteceu.

Michiles aconteceria, duas décadas depois, com uma série de frevos inovadores, que se tornariam clássicos da música pernambucana, e brasileira. Neste sábado, 4 de fevereiro, J.Michiles completa 80 anos. Se não tem festa pra ele em praça pública, deveria.

Exatamente 20 anos depois de Recife Manhã de Sol, Michiles emplacava seu primeiro grande sucesso no carnaval pernambucano, com Bom Demais, interpretado por Alceu Valença. Vieram em seguida, Me Segura Senão eu Caio, Diabo Louro, Vampira, Roda e Avisa (com Edson Rodrigues), estas também por Alceu, e Queimando a Massa, lançada por André Rio. Todas com diversas regravações, incorporadas ao repertório comum ao carnaval de Pernambuco.

Assim como Carlos Fernando a partir de meados dos anos 70, com frevos canção de temática moderna, melodias engenhosas, J.Michiles expandiu os limites do gênero, dando-lhe um pique de frevo de rua, com letras que se referem a carnaval mais sob uma ótica contemporânea. Sem esquecer, que Michiles também é bom de maracatu canção. É dele um dos clássicos desse gênero surgido nos anos 30, e que teve em Capiba um dos mais prolíficos compositores. É de J.Michiles Recife Nagô, uma música que muita gente acha que é de domínio público. Pois é, J.Michiles, que também é bom de voz, pode chegar num palco e anunciar ao público: “Eu vou cantar um folclore de minha autoria: Recife Nagô”.   

2 comentários em “J.Michiles, chega aos 80 anos, com a massa entoando o corinho: “Bom demais, bom demais , bom demais …”

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  1. Excelente crônica carnavalesca, Teles!

    J. Michiles há muito merece um estudo acurado sobre suas composições carnavalizadas. Ter impresso sua marca evolutiva nos frevos modernos, interpretados por Alceu Valença, já pode ser considerado o maior mérito desse grande compositor, que merece todos os encômios!

    Compor é fácil, mas revolucionar é só pra quem tem talento, e Jota Miquiles tem!

    Parabéns pela lembrança.

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