Carmélia Alves Curvello completaria cem anos e um dia, nesta quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023 (faleceu em 3 de novembro de 2012). Carioca de Bangu, filha de pai cearense e mãe baiana, Carmélia Alves foi uma das mais populares das cantoras da era do rádio, teve seu auge nos anos 50, e graças ao baião, do qual foi coroada rainha pelo Rei Luiz Gonzaga, em pleno auditório da Rádio Mayrink Veiga, no programa No Mundo do Baião.
A ligação de Carmélia Alves com o baião aconteceu naturalmente, quando o ritmo estilizado por Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga se tornou a “coqueluche”, como então se dizia da música brasileira, cantores e cantoras passaram a gravá-lo. Compositores que até então se dedicavam a sambas, marchinhas, fox-trot e gêneros em voga, partiram para compor baiões.
O primeiro baião de sucesso gravado por ela foi, em 1950, Sabiá na Gaiola, do mineiro Hervé Cordovil. No lado B do bolachão, Carmélia Alves lançaria como compositor um pernambucano recém-chegado ao Rio, Luiz Bandeira. Gravou dele o baião, meio coco, A Dança do Pinote. Faria um LP inteiro com composições de Hervé Cordovil, quase todo de baiões, Hervé Cordovil Interpretado por Carmélia Alves (1956, Copacabana). A cantora estreitaria seus laços com o Baião em 1951, na Rádio Jornal do Commercio, aonde veio fazer uma temporada. Deslumbrou-se com o talento de Sivuca, então com 21 anos, e um dos mais populares artistas de Pernambuco, integrantes da Orquestra Paraguary.
Ela e Sivuca logo formaram uma dupla, animando os programas de auditório da emissora com pot-pourris de baiões, a maioria de Luiz Gonzaga. Entusiasmada, a plateia aplaudia e chamava Carmélia Alves de “rainha”. Coroação oficializada por Luiz Gonzaga, que a coroou com colocando-lhe na cabeça um chapéu de couro. Até o início da década de 60, ela honrou o seu reinado. No entanto, assim como trocou os sambas pelos baiões a partir de 1950, Carmélia, feito tantos outros nomes do rádio, foi atraída pela bossa nova.
Bossa Nova com Carmélia Alves foi o seu LP de 1964, uma mudança radical de gênero. Curiosamente, ela se afastou do baião, mas não de Pernambuco. A faixa que abre o repertório desse disco é O Samba Brasileiro, do jornalista e compositor Claribalte Passos, nascido em Caruaru (completaria cem anos no próximo 25 de março, e nesta quarta-feira, por coincidência, completam-se 37 anos de sua morte). Por sua vez, o álbum tem selo Mocambo, da gravadora recifense Rozenblit.
Carmélia Alves não deu certo na bossa nova, e reivindicaria o título nobiliárquico no disco seguinte, que ganhou o título de A Rainha do Baião (1968, Chantecler). Permaneceria na rota da música nordestina até o final da carreira, com eventuais shows com cantoras contemporâneas da era do rádio.
FREVO
É pouco lembrado que Carmélia Alves foi uma das cantoras cariocas que mais gravou frevos. Em 1951, lançou É Frevo Meu Bem, de Capiba, com Frevo na Chuva, no lado B, composição de Hermann Barbosa (irmão de Capiba). Regravaria os dois no ano seguinte, com a Pisada é Esta, de Capiba, e A Poeira no Frevo de Hermann. Ainda em 1952, lançou mais dois frevos canção Rompendo, de Jonas Cordeiro, e Deixa o Homem se Virar, de Capiba.
Voltaria ao frevo, em 1954, gravando Hermann Barbosa, com Tá Pegando Fogo, e Capiba, com Ninguém É de Ferro. Ainda em 1954, mais uma vez gravou os irmãos: Camisa Velha, de Hermann, e Vamos pra Casa de Noca, de Capiba. Dois anos mais tarde, lançou mais frevos. Saudades de Pernambuco, de Genival Macedo e Rosa de Oliveira, e Amanhã Eu Chego Lá, de Capiba. Durante a década de 50, Carmélia Alves, quase todos os anos, lançava frevos. Em 1957, foi mais uma vez de Capiba, com Nem Que Chova Canivete, e Luiz Bandeira, com É de Fazer Chorar.
Houve um hiato em 1958 e 59, mas voltaria a gravar, pela Mocambo, em 1961, Tá bom Demais, de José Santa Cruz, e Frevo do Futucado, de Aldemar Paiva. No ano seguinte foi a vez de É de Maroca, de Capiba. O último frevo gravado por Carmélia Alves não é de autor pernambucano, foi Sem Grilos, de Caetano Veloso e Moacir Albuquerque, em 1974, gravado por Gal Costa no mesmo ano.
Show de craque, ou melhor gol de bicicleta à lá Pombo na Copa passada, essa matéria Teles, parabéns e gratidão. Sobretudo principalmente, por me trazer lembranças do meu pai Ademar Lima. Na época histórica desses hits da Carmélia Alves, ele era o programador musical da Rádio Jornal Commercio, “Recife Pernambuco falando para o mundo”!
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valeu. Conheci Carmélia em Aracaju, num forum do forró. Estava com 80 anos, superelegante. participei de uma mesa com ela
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