Discos para quem não é de carnaval: Cláudio Jorge e Guinga evocam o subúrbio em Farinha do Mesmo Saco

Cláudio Jorge e Guinga são dois dos mais talentosos músicos do país, ilustres desconhecidos para a maior parte dos compatriotas, mesmo que sendo donos de currículos quilométricos. Ambos tocaram, fizeram shows, e compuseram com alguns dos mais consagrados artista da música brasileira. Comungam entre si o fato de serem do subúrbio carioca, e isto inspirou o conceito do álbum.

Guinga nasceu em Madureira, Claudio Jorge no Cachambi, quase no Méier. Farinha do Mesmo Saco (Kuarup) é, pois um título apropriado para um disco em que eles celebram o subúrbio e uma amizade de meio século, iniciada no grupo que acompanhava João Nogueira, Guinga no violão, e Cláudio Jorge no contrabaixo.

Os estilos são diferentes, mas convergem para o mesmo ponto. Guinga é considerado um dos mais requintados compositores da MPB, de harmonias complexas, resultado de muito estudo, do popular a Villa-Lobos, enquanto Cláudio Jorge começou nos seus vinte anos tocando com veteranos bambas feito Cartola, Nelson Cavaquinho, Ismael Silva, Clementina de Jesus, daí em diante esteve com uma lista infindável de nomes de pequeno, médio e grande quilates.

Cada canção tem sua história. Alma Suburbana, de Claudio Jorge, lançada por Joanna em 1983, aponta para o conceito do disco : “Sempre esperando da vida/tudo que se pede/mas pouco se tem/cheiro da noite é de dama/eu falo na alma suburbana”. Mello Baloeiro, parceria de Guinga e Anna Paes, teve primeira gravação em 2021, no álbum Japan Tour 2019, com Guinga Mônica Salmaso, Nailor Proveta e Teco Cardoso. Já Chorando pelos Dedos, remonta ao início da carreira de Cláudio Jorge, é parceria com João Nogueira, de 1975, e homenageia o bandolinista Joel Nascimento.

O samba choro Largo das Cinco Bocas, parceria com Anna Paes (que lançou em 2022, um disco inteiro com músicas de Guinga), foi composto em 2020, homenageando Aldir Blanc que cantou o subúrbio como poucos o fizeram.  Bom Bocado, de Claudio Jorge e de Nei Lopes, versa sobre os acepipes  suburbanos, e é interpretada por Cláudio, Guinga, e Anna Paes. Bilhete para Guinga, foi feita para este disco, por Claudio Jorge e  Gilson Peranzzetta, e celebra o reencontro entre Claudio e Guinga. Senhora da Canção, mais uma de Claudio Jorge e Nei Lopes, feita em 2000,uma homenagem a Dona Ivone Lara, que a gravou com Nei Lopes e Alcione.  Sabia Negritude, Guinga,

Com Eder Kneip, Guinga compôs Mar de Maracanã, ode ao velho estádio carioca. Luis Carlos da Vila é parceiro de Cláudio Jorge numa espécie de brinde à amizade dos velhos amigos, que soam neste álbum como se estivessem  numa varanda de uma casa de um subúrbio bucólico, trocando ideias, enquanto buscam no violão músicas que lhes trazem lembranças em comum.

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