Deve haver algum livro sobre as doideiras no rock and roll dos anos 60 e 70. Se não tem, deveria. Li outro dia uma autobiografia de Jeff Beck, o grande guitarrista falecido em janeiro de 2023. Ele conta sobre uma apresentação do Jeff Beck Group e Ten Years After, abrindo para o Vanilla Fudge, no Singer Bowl, no Queens, em Nova Iorque, em 13 de julho de 1969. Alvin Lee e sua guitarra levaram um banho de suco de laranja durante o show do Ten Years After. Ronnie Wood e Rod Stewart disputavam quem dos dois aprontava mais.
Mal começou a apresentação do Jeff Beck Group chegaram Jimmy Page, Robert Plant e John Bonham embriagados. Logo estavam no palco pra uma canja com o grupo de Jeff Beck em Jailhouse Rock, o hit de Elvis Presley. Robert Plant cantava tentando se livrar de estocadas que Jeff Beck tentava desferir nos seus genitais, com o braço de uma guitarra Les Paul, John Bonham bêbado abaixou as calças, enquanto rolava uma jam em The Stripper, sucesso instrumental do também inglês David Rose, que se tornou música de fundo em shows de strip-tease.
Rod Stewart cantava, e tentava enfiar o microfone no traseiro desnudo do baterista. A polícia encaminhava-se ao palco pra interromper a pouca vergonha. Peter Grant, empresário do Jeff Beck GRoup e do Led Zeppelin, viu os policiais, e mandou desligar todas as luzes. No escuro, arrastaram do palco John Bonham, que já apagara sobre a bateria.
Como diria outro inglês, William Shakespeare, “Está bem tudo que acaba bem”. Dessa confusão, surgiu um dos grandes power trios dos anos 70. Como seu grupo esfacelava-se, Jeff Beck, no dia seguinte, convidou Tim Bogert e Carmine Appice, que tocavam no Vanilla Fudge, para formarem uma banda, a Beck, Bogert & Appice.
Se o Jeff Beck Group tivesse demorado mais um mês, talvez durasse mais tempo. O nome da banda constava da programação do festival de Woodstock, que aconteceria em agosto. O documentário de Michael Wadleigh, mostrou apenas os melhores momentos do festival e forjou lendas de artistas e bandas como o Ten Years After ou a Santana Band. O Jeff Beck Group já era grande nos EUA, mas certamente teria sua dimensão ampliada se fizesse o Woodstock.
LED ZEPPELIN
A zoação com os integrantes do Led Zeppelin por parte da turma do Jeff Beck Group foi incentivada por Jeff Beck. Em sua biografia Hot Wired Guitar – The Life of Jeff Beck, de Martin Power, ele aponta que o Led Zeppelin não era apenas de se apropriar de canções alheias, mas também conceitos. Num hotel em Nova Iorque, o empresário Peter Grant tocou para Beck o acetato do que seria o álbum de estreia do Led Zeppelin. Jeff Beck conta que até a segunda faixas estava apreciando a música. Na terceira teve uma surpresa. Era uma versão de You Shook Me, de Muddy Waters. O guitarrista conta que achou que fosse um tributo ao seu grupo, que gravara a mesma música tinha pouco mais de um mês. Pediu que Grant tocasse o disco do Led Zeppelin. O empresário disse que o disco era o que estavam escutando.
Há outra versão em que Jimmy Page estava presente, e Jeff Beck chorou, literalmente, de raiva. Felizmente, para Jimmy Page, ele não escutou até o final. How Many More Times, que fecha o repertório tem um trecho chupado do tema Beck’s Bolero, incluindo a levada de bateria. Jimmy Page garantiu que não sabia que Jeff Beck tinha gravado You Shook Me. Mas uma desculpa que não se segurava na realidade.
Page acompanhara o Jeff Beck Group em turnês pelos EUA, levado por Peter Grant. Ainda por cima, o John Paul Jones não apenas visitava o estúdio onde o grupo de Jeff Back gravava, como participou tocando um Hammond na faixa Ol’ Man River. Diga-se a favor de Jimmy Page, que o sucesso imediato do Led Zeppelin incomodou Jeff Beck, sobretudo pelo baterista do grupo, sugerido a ele pelo vocalista Robert Plant. O Led Zeppelin fazia o som que ele pretendia fazer, mas não fez.
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