Yoko Ono, a esfinge japonesa, chega aos 90 anos

Há 55 anos, o beatle John Lennon visitou a Indica, galeria de arte de um amigo, em Londres, onde se montava a exposição Unfinished Painting (Pintura Inacabada) da artista plástica japonesa, naturalizada americana, Yoko Ono. A galeria pertencia a John Dunbar, marido da cantora Marianne Faithfull. Ele tinha mais dois sócios. Um deles era Peter Asher, da dupla Peter & Gordon, irmão de Jane Asher, então namorada de Paul McCartney, que financiou a galeria. Ironicamente, McCartney fez com que John conhecesse Yoko a quem, até hoje, os fãs consideram a principal culpada pela dissolução dos Beatles.

Lá pelo início dos anos 2000, uma fã recifense dos Beatles, em Nova Iorque, conseguiu convites para o concerto de aniversário do baterista Ringo Starr, recheado de astros do porte de um Eric Clapton. No entanto, quase desiste do show, quando descobriu que ia se sentar perto de Yoko Ono, a viúva de John Lennon. Assim como esta fã, centenas de milhares, mundo afora, continuam odiando a mulher que consideram a causadora da extinção dos Beatles. Aos 90 anos, completado nesse 18 de fevereiro de 2023, Yoko Ono, pode não ter amainado a antipatia dos beatlemaníacos em relação a ela, mas crítica musical já não a trata mais como acontecia nas décadas de 60 e 70. Muito pelo contrário

“Se algum outro predicado em Yoko que pode ser comparado a sua imbecilidade poética, é o quanto ela consegue ser tão detestável”, trechinho pinçado da crítica sobre o álbum Approximately Infinite Universe Fly, assinada por Nick Tosches, no então jornal Rolling Stone. a crítica ao álbum Feeling the Space, lançado em 1973, quando fez também o disco Appoximately Infinite Universe e Feeling the Space. Com críticas em fartas em misoginia, machismo, preconceito racial,

Em ambos os discos, Yoko Ono radicalizava seu pioneirismo pelos direitos da mulher. A dedicatória que escreveu para o álbum Feeling the Space: “Este álbum é dedicado às irmãs que morreram de dor e tristeza e àquela que estão agora em hospitais psiquiátricos e asilos pela incapacidade de sobreviver numa sociedade machista”. Inegavelmente há discos seus de digestão difícil, experimentais, sem concessões. Execrados por fãs dos Beatles e pela imprensa.

No entanto, quando John Lennon temia o futuro, já que não tinha uma profissão definida, e achava que nunca iria viver de música, Yoko Ono já era uma reconhecida integrante da vanguarda das artes plásticas nova-iorquina. Integrava o grupo Fluxus, influente e atuante no efervescente movimento de arte conceitual de Nova Iorque, no início dos anos 60. Porém Yoko Ono era uma criadora solitária, com exposições, ou performances, polêmicas, entre as quais a Cut Piece (Peça Cortada), apresentada em Tóquio, Londres e Nova Iorque (no Carnegie Hall). Na Cut Piece Yoko Ono expunha­-se, num palco, bem vestida, com um par de tesouras à sua frente, e convidava as pessoas na plateia a subir e cortar pedaços da suas roupas.

Yoko Ono influenciaria John Lennon e, por tabela, a música dele no período final dos Beatles. Ela não era leiga no assunto. Estudou música clássica japonesa, foi aluna de John Cage e trabalhou com La Monte Young (Marcel Duchamp esteve na plateia de uma performance dos dois), referências da vanguarda musical do século 20. 

Foi um objeto voador não identificável que pousou na swinging London, capital da melhor música pop da segunda metade dos anos 60. Nunca foi uma mulher convencional, nem adepta do cartesiano. Sempre escreveu torto por linhas certas. É uma das mais importantes artistas multimídia do século 20. Sua culpa foi casar com um integrante do mais apolíneo grupo musical daquele século. E Yoko nem é, nem nunca foi dionisíaca. Está muito mais para qualquer Coisa, a canção de de Caetano Veloso parece ter sido inspirada por ela.

4 comentários em “Yoko Ono, a esfinge japonesa, chega aos 90 anos

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  1. Nunca engoli essa história de que a Yoko tinha sido a responsável pelo fim dos Beatles. A banda ia acabar com ela por perto ou sem ela por perto, era questão de tempo aqueles quatro seguirem cada um pra seu lado. Acho que o documentário do Peter Jackson ajudou um pouco para que essa história fosse desmentida – se bem que para alguns a cisma ainda continua, sempre vão tentar achar um culpado pelo fim dos besouros. Mostro essa performance da Yoko (Cut Piece) nas minhas aulas de arte e sempre ressalto que ela já era uma pessoa famosa antes do Lennon conhecê-la.

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    1. Já tava praticamente separados. Postei um texto hoje sobre George Harrison como produtor na Apple. Pela produção já dá pra sacar isto. CAda qual produziu o seu artista, John Lennon não participa das produções dos outros. É cada um por si. No disco de Jackie Lomax, aina tem Paul Ringo, porque o cara era amigo deles das
      antigas em Liverpool

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  2. Acompanho os Beatles desde 1965 e com todo o respeito as opiniões contrárias na minha visão, a entrada da Yoko na dinâmica dos Fab4 balançou o coreto mas não foi a causadora da separação. Desde 1967/68 a situação da banda estava muito complicada… Por volta de 2060 muitas comemorações acontecerão sobre centenário do Beatles(4ever).

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