Germano Mathias, o catedrático do samba paulistano, morre aos 88 anos

Germano Mathias, que faleceu nessa quarta-feira de cinzas, 88 anos, é a prova de que Vinicius de Moraes equivocou-se ao classificar São Paulo como o túmulo do samba. Paulistano da classe de 1934, Germano Mathias foi um dos grandes da história do samba, na linha suingada e bem humorada de Jorge Veiga, e teve seu maior momento nos anos 50. A partir de 1955, emplacou pelo menos um sucesso por ano, alguns com letras inimagináveis nos dias atuais.

“Minha nega, na janela, diz que está fazendo linha/eita nega tu é feia/ que parece macaquinha/olhei pra ela e disse vai já pra cozinha/dei um murro nela/ e joguei dentro da pia/quem foi que disse que a nega não cabia? “, versos de Minha Nega na Janela (parceria com Doca, 1956).  Com este samba, ele venceu 300 candidatos ao primeiro lugar do concurso À Procura de Um Astro, na Rádio Tupi, com o qual estreou na gravadora Polydor.  Curiosamente, para dizer o mínimo, Minha Nega na Janela foi gravada, em 1978, por Germano Mathias e Gilberto Gil, no LP Antologia do Samba-Choro.

Filho de carioca, Germano Mathias, trabalhava como camelô, enquanto frequentava programas de calouros, quase sempre se saindo vencedor. Só no programa Aí Vem o Pato, na Rádio Nacional, venceu nove vezes. Até o final dos anos 50 foi um dos mais populares sambistas do país. A partir de 1957 lançou LPs quase todos os anos até 1974. Só voltaria a gravar um álbum em 2002.

Como a da maioria dos intérpretes da velha guarda, a  sua discografia encontra-se quase toda fora de catálogo, e é ainda mais complicada para ser relançada porque Germano Mathias mudou de gravadora a cada trabalho. A exceção foi na RGE, pela qual lançou dois LPs, em 1958 e 1959. 

O estilo de Germano Mathias tinha influência de Jackson do Pandeiro, um samba com um pé também nas síncopas do paraibano. Aliás, em 2016, Germano lançou, dividindo com Manu Lafer um CD de forró, gravando, entre outros, João Silva, Onildo Almeida, Rui de Moraes e Silva ou Elino Julião. O cantor tinha anunciado um disco novo para 2023. O último, Raiz e Tradição, é de 2012.

(foto: capa do LP Germano Mathias, 1974. Fonte: forroemvinil.com).

Politicamente incorreto à parte, Germano Mathias, assim como Moreira da Silva criou um personagem, o malandro da ginga, e da farra. Ginga tinha de sobra, mas não era da farra. Não bebia, nem fumava, e acreditava em espiritualismo e ocultismo. No palco era impagável, sambando batucando numa tampa de latinha de graxa, e muitas vezes, numa pequena frigideira.

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