De Tudo se Faz Canção – 50 anos do Clube da Esquina, ou tudo o que você queria saber sobre um dos discos mais importantes da MPB

“O disco Clube da Esquina foi um momento de grande criação de Milton, ele estava numa fase muito criativa, eu, iniciando a minha fase de compositor, muito criativa também, e acho que o grande barato desse disco, o que chamou atenção desse disco, até no mundo inteiro, foi exatamente esta mistura”, de Lô Borges sobre o álbum que ele dividiu com Milton Nascimento, lançado em 1972.

Ele ressalta como se encaixaram tão bem suas influências da música brasileira com o rock inglês, sobretudo Beatles, com o jazz, a MPB, o samba jazz e gêneros regionais mineiros nas composições de Bituca. Músicos de gerações diferentes, convergindo para um mesmo ponto. Quando o Clube da Esquina foi lançado, em março de 1972, Lô Borges completara 20 anos em janeiro, enquanto Milton completaria 30 em outubro. Nenhum dos que participaram do álbum tinha noção da dimensão daquele projeto surgido meio por acaso.

O título foi uma sacada de Márcio Borges. Na época em qualquer cidade havia clube da esquina. Era numa esquina que adolescentes reuniam-se para conversar, ou tocar violão. Naqueles clubezinhos surgiam amizades para a vida de inteira, ou parcerias. Lô Borges, ainda adolescente costumava ficar horas com os amigos numa esquina próxima do predio onde morava. Os clubes das esquinas desapareceram depois que casas e edifícios passaram a se proteger com muralhas, mais apropriadas a presídios de segurança máxima.

Celebrando os 50 anos do disco, a jornalista Chris Fuscaldo e o compositor Marcio Borges, um dos mais inspirados letristas do clube, organizaram o livro De Tudo se Faz Canção – 50 Anos do Clube da Esquina (Garota FM), que terá noite de autógrafos, com a presença da dupla, nesta terça-feira, às 19h,no Mocó Bistrô (Rua das Graças, 178), e com uma canja da Banda da Esquina, tocando o repertório do álbum e de discos dos sócios do clube.

OS BORGES

Milton Nascimento frequentava o apartamento da família Borges no Centro de Belo Horizonte, era amigos dos irmãos de Lô Borges, ainda garoto quando o conheceu. E como tal era tratado por Bituca, o apelido de criança de Milton (que o acompanha até hoje). Até um dia em que ele foi à casa dos Borges e de lá para um botequim próximo, onde pediu uma caipirinha para si, e um guaraná para o garoto. Lô recusou o refrigerante. Queria também uma caipirinha. Foi então que Milton caiu na real. O garoto crescera. Já fazia música, tornaram-se parceiros.

Pelo seu contrato com a Odeon, Milton Nascimento deveria gravar um disco anual. No ano anterior ele não lançou disco. Em 1972, decidiu gravar dois de uma só vez, ou melhor, um álbum duplo, algo pouco comum na indústria fonográfica brasileira. Só Gal Costa, com o FA-Tal Gal a Todo Vapor (1971), tivera este privilégio na MPB. O pioneirismo em álbum duplo da discografia nacional foi o Frevo em Compasso de 1 mais 1, da Rozenblit, gravado para o carnaval de 1967.

Uma proposta que suscitou discussões na Odeon, porque, além de duplo, não seria um álbum só de Milton Nascimento. Seria creditado também a um artista desconhecido, que faria sua estreia em disco. O diretor artístico Adail foi quem Lessa convenceu o alto escalão da gravadora a permitir que Milton e Lô gravassem o tal álbum duplo. Mas a ousadia continuou até na embalagem do projeto. Uma foto de dois garotos, um branco e o outro negro, tirada, por acaso, pelo pernambucano Cafi, numa estrada próxima à fazenda dos pais de Ronaldo Bastos.

A capa trazia apenas a foto limpa, sem nada que indicasse qual o título do álbum ou de quem era. A ideia passou, sabe-se lá como, Os divulgadores sugeriam que os lojistas expusessem o disco mostrando a contracapa, onde há os nomes e fotos dos artistas. O álbum vendeu bem, mas para um público limitado, até porque custava caro.

Álbum duplo no Brasil, só em caso de ser inevitável, caso dos Beatles, com o Álbum Branco, em 1968. No ano seguinte ao do lançamento do Clube da Esquina, Goodbye Yellow Brick Road, de Elton John, originalmente duplo, saiu aqui com apenas um LP. Pesava também o fato de nem mesmo jornalistas saberem quem era Lô Borges. No Jornal do Brasil, em março de 1972, uma nota anunciava o lançamento do álbum, creditado apenas a Milton Nascimento:

“Nos dois discos Milton Nascimento se apresenta, acompanhando-se em algumas composições de sua autoria, como principal intérprete. Dos músicos participantes Lô Borges, Tavito, Wagner Tiso, e Paulo Moura são alguns dos nomes que mais se sobressaem”. O álbum foi sendo lentamente assimilado, continuou vendendo razoavelmente bem, passou de cult a obrigatório, e tornou-se um dos mais influentes da história do disco no Brasil. Ano passado dividiu com Acabou Chorare, de Os Novos Baianos, o título de melhor disco de todos os tempos da MPB.

De Tudo se Faz Canção – 50 Anos do Clube da Esquina praticamente esgota o que se possa ainda ser escrito sobre o álbum. Começa com um resumo de como surgiu, traz depoimentos dos que o fizeram, incluindo a cantora Alaíde Costa, que canta com Milton um sambão carnavalesco, Me Deixa em Paz (Monsueto/Airton Amorim). Além da ficha técnica, o livro traz um faixa a faixa, com textos assinados por jornalistas especializados em música, e ainda chega ao Clube da Esquina 2 (1978), Uma edição requintada e fartamente ilustrada.  

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