Kimi Djabaté, parceiro de Madonna, esbanja criatividade em Dindin, que estende os limites da música de Guiné-Bissau

Kimi Djabaté reforçava a precária renda familiar, desde os oito anos, tocando Balafon em casamentos, batizados e afins na Guiné-Bissau, país lusófono, da África Ocidental. Em 1994, aos 19 anos, foi tentar a sorte em Portugal. Entre seus planos estava tocar nas ruas de Lisboa, em bares, e faturar o suficiente para se sustentar. Depois, talvez, participar de discos ou shows de músicos africanos radicados em Portugal.

Foi o que lhe aconteceu, seu talento foi reconhecido. Gravou discos elogiados, trabalhou com, entre outros, o conterrâneo Netos de Gumbé, o angolano Waldemar Bastos, ou com o guineense Mori Kanté, um dos mais prestigiados músicos do continente, mestre do kora.

O que provavelmente jamais lhe passou pela cabeça foi estar num disco com um estrela pop do porte de Madonna, que trocou Los Angeles por Lisboa em 2017. Ela o convidou, em 2019, para gravar Ciao Bella, para o álbum Madame X, que entrou como faixa bônus da edição deluxe.

Depois dessa exposição, com ampla repercussão na imprensa portuguesa, Kimi Djabaté lança disco novo Dindin (Cumbancha Records) que corresponde às expectativas, com muita resenha elogiosa. Não apenas em Portugal, mas igualmente em vários países da Europa cada vez mais receptiva a gêneros que já foram chamados de “world music”, basicamente a música da periferia.

Com o mundo conectado a globalização se tornou um caminho de troca de informações. Dindin reúne ritmos afro-lusitano (entre os quais a morna de Cabo Verde), com elementos de afrobeat, de blues do deserto da África Ocidental, balanço cubano e jazz. Ressaltando-se o dom de Djabaté de criar canções quase sempre dançantes com ótimas melodias.

Nascido em 1975, o músico nasceu numa família de griots, que circulava pelo país, levando a tradição da música e poesia oral para outras regiões. É mais ou menos isto que Kimi Djabaté faz em Dindin, que tem a África como tema, ao mesmo tempo em que pratica ativismo político e humanitário em parte das canções, abrangendo direito das mulheres, fome, educação, exploração de trabalho infantil.

A faixa Omanhé, por exemplo, denuncia a prática do casamento sem consentimento da noiva. Afonhe é uma diatribe contra a corrupção. Mas ele reserva espaço para canções românticas como Yensoro e Alidonke, um blues tuareg, das melhores faixas do álbum.

Dindin, que significa “criança” em mandinga, passa por longe do estereótipo da predominância da percussão na música de países africanos. Há percussão, sim, tocada por Kimi Djabaté. Porém o predomínio no álbum é da delicadeza do balafon (instrumento percussivo mas harmônico, como o xilofone), com acompanhamento básico de guitarra (também tocada pelo dono do disco), contrabaixo, teclado e acordeom.

Letras das canções no link https://www.cumbancha.com/kimi-djabate-dindin-pr

Um comentário em “Kimi Djabaté, parceiro de Madonna, esbanja criatividade em Dindin, que estende os limites da música de Guiné-Bissau

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  1. Excelente comentário, Teles!

    Kimi Djabaté, da Guiné-Bissau, me lembra muito o falecido Naná Vasconcelos, percussionista genial que teve de fugir do Brasil para os Estados Unidos para poder ser reconhecido como grande músico.

    Parabéns´Mano!

    Não fosse você eu desconhecia totalmente Kimi Djabaté, o percussionista que Madonna sentiu firmeza no talento.

    Curtir

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