Milena & João do Vale ao Vivo, resgata show da dupla no Projeto Pixinguinha em 1982

O maranhense João do Vale, feito Luiz Gonzaga levou para o Rio um matulão recheado de ritmos e cantos nordestinos, que utilizaria na sua obra, uma das mais consistentes entre os autores do forró. Sua participação no Opinião, em 1964, com Zé Kéti e Nara Leão, e o estouro de Carcará pela estreante Maria Bethânia, extraída do repertório do musical, transferiu popularidade para o compositor entre o público Zona Sul carioca.

João do Vale tornou-se, por algum tempo (não muito) queridinho dos universitários, escreveu baiões de protesto feito Minha História (com Raymundo Evangelista), e Sina de Caboclo (com J.B de Aquino), e aos poucos, porém, saiu de moda, e voltou ao seu nicho, o do forró, gravado por alguns dos mais importantes intérpretes do gênero. Na segunda metade dos anos 70, foi descoberto por uma nova geração de universitários, o que impulsionou sua carreira até meados dos anos 80, quando foi vítima de um AVC, que o deixou com metade do corpo paralisado, e fora dos palcos.

Em 1977, a Funarte promoveu o Projeto Pixinguinha, com caravanas de artistas consagrados e emergentes circulando por capitais e cidade grande do interior. Um projeto vitorioso. Patrocinado por uma autarquia do Ministério da Educação e Cultura, não veio do alto recomendações para não escalar determinados artistas, feito Gonzaguinha, que contestavam o regime militar.

João do Vale seria um desses. Depois do AI-5, em 1968, ele se escondeu no interior do Maranhão, pra não ser preso. Participou da primeira edição do projeto, e voltou a ele em 1982, com a cantora baiana Milena, e abertura do grupo sergipano Bolo de Feira. 40 anos depois o registro de uma apresentação de João e Milena no Pixinguinha chega ao disco, pelo selo carioca Discobertas. Milena & João do Vale ao Vivo já circula nas plataformas de música para streaming.

Milena é desses casos que pontuam a indústria fonográfica. Tinha tudo para decolar, mas não aconteceu. Ótima cantora, ela começou no final dos anos 60, chegou à Odeon, pela qual lançou o LP de estreia em 1975, como sambista (o gênero estava em alta), que pouca gente ouviu. Milena mudou de gravadora várias vezes ao longo da carreira, em nenhuma emplacou.

Este álbum com João do Vale (lançado em formato digital) é consequência de um álbum que Milena gravou em 2019, um tributo ao amigo maranhense, João do Vale – Muita Gente Desconhece, produzido por Thiago Marques Luiz, especialista em trazer de volta à cena artistas injustamente caídos no ostracismo. Desse álbum, no entanto, foram produzida duas centenas de cópias. Seria o canto de cisne de Milena, que faleceu em 2020, aos 77 anos.

Também com participação de Thiago Marques Luiz, e remasterização de Anderson Cesarini, Milena & João do Vale ao Vivo tem boa qualidade sonora, levando-se em conta a precariedade dos equipamentos de palco 40 anos atrás.

O repertório que, curiosamente, abre com Maria Moita, de Carlinhos Lyra e Vinicius de Moraes, mescla composições de João do Vale (e seus muitos parceiros), incluindo uma inusitada, e inédita, parceria com escritor e jornalista Arthur José Poerner (Pra Multiplicar o Bem), e de canções conhecidas de autores como Zé Dantas, Humberto Teixeira, Gonzagão e Gonzaguinha. São doze faixas, a maioria pot-pourri com duas ou mais músicas.

Um projeto que presta homenagem à Milena, e pode voltar às atenções para o esquecido João do Vale, falecido em 1996, em consequência de um AVC (foi vítima de um dez anos antes, que o deixou com parte do corpo paralisada, e o obrigou a se locomover em cadeira de rodas). Quem sabe, reeditam o LP de estreia de 1965. O Poeta do Povo, aliás seu único disco solo.    

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