Arte Longa, de Geraldo Amaral, quejácircula nas plataformas de música para streaming, era o disco perdido da música pernambucana, como os gringos dizem de álbuns gravados e engavetados. Veterano militante das cenas musicais do Recife, No idos dos anos 70, Geraldo tocou em Os Bambinos, com Robertinho do Recife, e em Os Diamantes, que acompanhou Alceu Valença no histórico show O Ovo e a Galinha. Ao longo da carreirra assinou parcerias com muita gente boa, porém as mais constantes são com Geraldo Azevedo, Carlos Fernando, Renato Rocha.
A trinca de parceiros está em Arte Longa, um trabalho realizado nos anos 90, e arquivado, embora algumas das faixas tenham ido parar em discos de nomes como Nádia Maia, Marinês, Geraldo Azevedo Ou Alceu Valença. O próprio Geraldo Amaral esclarece o “mistério” de Arte Longa: “O disco foi feito na fronteira do analógico para o digital, fiz em 1996, 97 e nunca lancei porque, Junto com esta reforma tecnológica, veio o fim das gravadoras. As coisas que aconteceram depois disso não me permitiram lançar este o álbum comercialmente. Agora que a gente não tem mais esperança de ganhar dinheiro com música, tem que fazer doação para o público de nossa obra, então disponibilizei em todas as plataformas o Arte Longa”.
Passaram-se tanto anos, que ele teve que criar outra capa para puder disponibilizar nas plataformas de streaming. Encontrou somente uma foto pequena da capinha, a arte original se perdeu. Mas o importante continuou bem guardado e armazenado: a música. Arte Longa (também canção em parceria com Renato Rocha) é mezzo forró mezzo o que se convencionou chamar de MPB (como se forró não fosse música popular e brasileira). Efeitos Especiais (com Renato Rocha), a primeira faixa, é um forró agalopado, meio frevo, de não deixar ninguém parado, cerzido pela sanfona endiabrada de Severo
Arte Longa surpreende quando sai do balanço do forró. Pelo contraste com outros gêneros. É que acontece em Sambas Antigos (dele e Renato Rocha), com um viés para o chorinho, com o acompanhamento de um regional, com Ignez Perdigão, que toca violão, flauta e cavaquinho (também assina o arranjo), mais Lenildo Gomes, no bandolim, Josimar Monteiro, violão de 7 cordas e Zama, na percussão.
Aliás, a instrumentação é na base do menos é mais, extrai-se do que se tem a mão. Que Nem Você (com Pippo Spera e Renato Rocha) é aberto com um inspirado solo de sax tenor de César Michiles, com Renato Rocha nos teclados, Eduardo Krieger, no contrabaixo, Zama na percussão e Geraldo Amaral no violão. E de repente um lundu, Maria, inusitada parceria do poeta Castro Alves (1847/1871) com Gibran Helayel (violonista e professor do Conservatório Brasileiro de Música, no Rio).
Voltando ao forrobodó, aqui há pelo menos dois irresistíveis, Tempero do Forró, gravado por Geraldo Azevedo em 1996, no álbum Futuramérica, que tem também Quem Merece, faixa de Arte Longa (ambas parcerias dos dois Geraldo). O outro é Arrepiando (com Carlos Fernando), lançada por Alceu Valença em 1998, no disco Forró de Todos os Tempos. Este segundo um forró miudinho, é uma das músicas mais radiofônicas de Arte Longa.
Claro, não poderia falta um frevo canção, e dos bons, Maracujá Já-já, que lembra os mais inspirados sucessos de Capiba, com melodia que gruda, e letra curta, praticamente uma estrofe e o refrão. Uma parceria com Aristides Guimarães (com quem Geraldo Amaral escreveu Chama, sucesso com Joanna, em 1981).
Este frevo só tinha tido até aqui uma única gravação, de Nádia Maia, em 1999, no disco menos conhecido da série Asas da América, O Asinhas da América – O Pinto da Madrugada. Maracujá Já-já deveria ser incorporado ao repertório carnavalesco pernambucano.
Em tempo: Geraldo Amaral promete tirar do ineditismo mas um álbum engavetado, este produzido por Paulo Rafael. Torçamos que este também venha logo. Pegando carona no titulo, como diziam os romanos: ars longa, vita brevis.
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