Naná Vasconcelos tem dois discos relançados em vinil por gravadora alemã Altercat: Africadeus e álbum que gravou com Nelson Ângelo e o conterrâneo Novelli, ambos de 1973

Em 2 de agosto de 2023, Naná Vasconcelos completaria 79 anos. Neste mês de março ele já começou a receber presentes. Dois álbuns do inicio de sua carreira estão sendo relançado, em vinil (com edição especial colorida), e nas plataformas digitais, pelo selo alemão Altercat: Africadeus e Naná Vasconcelos Nelson Ângelo e Novelli, ambos os discos foram gravados em Paris, e lançados pela gravadora Saravah, do francês, fissurado em MPB, Pierre Barouh, também compositor, ator, e diretor de cinema, falecido no mesmo ano em que Naná Vasconcelos morreu, 2016. Tive a honra, e o prazer, de escrever o texto do encarte do Naná Vasconcelos, Nelson Ângelo e Novelli, a convite de Sergi Roigi, CEO da  Altercat.

Africadeus é o álbum de estreia solo de Naná Vasconcelos, comparado a um Jimi Hendrix do berimbau, um instrumento considerado limitado, que começou a tocar sistematicamente, quando participou, em 1967, ainda no Recife, do musical Memórias de Dois Cantadores, com Teca Calazans e Edi Souza (mais tarde Edy Star). Naquele tempo o rádio tocava um sucesso de Jackson do Pandeiro (dele e de Antônio Barros), que enfatizava a aparente pobreza do instrumento: “Agora só se fala em berimbau/é uma moeda, um arame /e um pedaço de pau”.

Em cinco anos, Naná Vasconcelos penetrou por todos os meandros do berimbau, e deu-lhe o protagonismo que não desfrutava na capoeira, que parecia ser o único espaço em que se encaixava. Uma estreia primorosa.

Nelson Ângelo, e Novelli são sócios do Clube Esquina, em cujos quadros Naná Vasconcelos militou, mas por pouco tempo. Logo ganharia o mundo como integrante da banda do saxofonista de jazz Gato Barbieri, autor da trilha de O Último Tango em Paris, de Bertolucci. A percussão de Naná é, como se diz por aí, a cereja do bolo da música do filme. Os três músicos comungavam de afinidades entre si. Naná e Nelson Ângelo tocaram juntos no Quarteto Livre, que tocava Geraldo Vandré no conturbado final de 1968 (Geraldo Azevedo e Franklin da Flauta completavam o grupo). Além de conhecer os dois trabalho com Milton Nascimento, Novelli era recifense feito Naná (mas cresceu em Garanhuns, no Agreste do estado), e teve um grupo de bossa jazz no Recife em meados dos anos 60.

A trinca fez um álbum de canções, com assinadas por Nelson Ângelo e Novelli (só ou com parceiros), e Naná fecha o álbum com o instrumental do repertório, intitulado Pinote, em que ele reinventa a percussão com berimbau, vozes percussivas, citação de Coroa Imperial (maracatu canção de Sebastião Lopes, de 1937). O disco traz outro instrumental, Garimpo, de Nelson Ângelo. O álbum tem um antológica capa do artista plástico Jean Michel Folon, que lhe rendeu um prêmio. Dois discos essenciais, que serão lançados em maio, mas já se encontra em pré-venda, pelo link: https://alter.cat/shop/?v=19d3326f3137

6 comentários em “Naná Vasconcelos tem dois discos relançados em vinil por gravadora alemã Altercat: Africadeus e álbum que gravou com Nelson Ângelo e o conterrâneo Novelli, ambos de 1973

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  1. Naná Vasconcelos era um músico injustamente desconhecido da maioria das pessoas até protagonizar a abertura do carnaval do Recife durante alguns anos. Passou a ser conhecido, mas, ironicamente, continuou desconhecido. Na época em que ele ganhou o título de Doutor Honoris Causa na UFRPE (ainda em vida, graças aos deuses da música) eu falei dele em sala de aula e os alunos o conheciam justamente por causa do carnaval. Indiquei alguns álbuns para eles ouvirem a genialidade do Naná. “Áfricadeus” é uma obra-prima. Os discos dele com a dupla Don Cherry e Collin Walcott são muito bons. E ele tocou com deus e o mundo da música! E mesmo reconhecendo sua genialidade confesso que (ainda) não conheço todo o seu trabalho. Esse com o Novelli e o Ângelo, por exemplo, nunca ouvi. Vou lá conferir. Abraços!

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  2. Alôu Teles, mais um show de matéria provocadora e instigadora pro TBD. Com Naná e Novelli serão capítulos longos, viu?! Pelo meu tempo sempre curto na guerra pela sobrevivência, só adianto que Naná começou a tocar berimbau em público no bar Aroeira (solos), e no show com Teca e Edy no palco, às segundas e terças (dias alternativos), ambos no TPN. E Novelli é a testemunha parceira viva de uma decolagem do aeroporto de Lisboa, num turbo hélice bimotor da TAAG (Transportes Aéreos Angolanos) com destino à Luanda, em 1979. Após duas escalas para reabastecimentos da aeronave, entre Camarões e Congo, a turbina do lado direito parou de funcionar. A máquina voadora inclinou, os passageiros orientados pela tripulação se amontoaram nas poltronas do lado esquerdo e rezaram. Graças a competência do piloto, o avião pousou no destino, com diversos passageiros mijados. Inclusive o Fernando Faro (in memoriam), nosso companheiro nessa odisséia. A missão da viagem era fazer uma frente pras locações dos shows do Projeto Kalunga, acontecidos em Luanda, Benguela e Lobito. E na volta cruzando o Atlântico, num quadrimotor também da TAAG, sem traumas, Chico Buarque apresentou e presenteou Clara Nunes com a sua Morena de Angola.

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      1. Exatamente naquele. Surtou no encontro com a ancestralidade dele. E me deu muito trabalho, durante as duas semanas que o grupo, de quase 40 pessoas, ficou no país recém tornado independente de Portugal. Mergulhava nos copos com força mesmo. Logo começou a preocupar os outros nomes consagrados da música, Chico Buarque, Clara Nunes, Dorival Caymmi, Djavan, Francis Hime, Ruy Faria (MPB4), assim como jornalistas da comitiva tipo a Mary Ventura, o Fernando Faro, os técnicos, enfim. Entrou no avião pra viagem de volta (travessia do Atlantico) dopado e amarrado numa camisa de força.

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      2. Tô com uma síntese e quatro capítulos escritos, de 35 planejados. O projeto de arte-educação pras crianças não me deixa avançar. Tenho o grave defeito de não conseguir fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo. Sobre o ADIVINHA O QUE É Arte-Educação tenho uma resenha sobre o Tio Patinhas pra te contar, no zap!

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