Mulheres pontuam a história do blues desde os primórdios, ma Rainey, Memphis Minnie, Sister Rosetta Tharpe, Bessie Smith, mas na galeria dos nomes tidos como mais importantes imperam os marmanjos. Bonnie Raitt, mulher e blueseira do primeiro time, é pouco citada quando se fala de blues. Nos últimos anos, Sister Rosetta Tharpe passou a ser cultuada, inclusive como suposta criadora do rock and roll. O que não é verdade. Memphis Minnie também tocava guitarra e, ao contrário da irmã Rosetta, cantava sobre a vida mundana, sem nada a ver com religião, andava inclusive armada. É dela When the Levee Breaks, mais conhecida com o Led Zeppelin, de quem Memphis Minnie se tornou parceira póstuma.
Se o rock tivesse sido inventado, e não surgido de uma evolução do blues, com country & western, a honra deveria ir para Big Mama Thornton, como cantora, e Jerry Leiber e Mike Stoler os inventores. Os dois são autores de Hound Dog, gravada em 1952, e lançada em 1953, por Big Mama Thornton, um mega sucesso, com 500 mil cópias vendidas. Três anos mais tarde, Elvis Presley a regravou, com milhões de discos vendidos mundo afora. Com Big Mama Thornton era blues, com Elvis, rock and roll.
O prolegômeno todo para chegar ao disco Real Gone, da guitarrista Texana Ally Venable, uma das muitas mulheres da atualidade blueseiras, junto com Ana Popovic, Joanna Connor, Susan Tedeschi ou Sue Foley, esta última é canadense já veterana. Ally Venable tem 24 anos, chamou atenção pela perícia na guitarra quando estava com 14 anos, quando estreou em disco com um elogiado EP. Não é pouco, em se tratando do Texas, terra de alguns dos grandes nomes do blues, inclusive brancos, Janis Joplin e Stevie Ray Vaughan. Foi Vaughan que levou Ally a se interessar pelo blues.
Real Gone tem viés para o rock and roll. A faixa Goin’ Home é um baladão bluesy com solos distorcidos. No single do disco, ele divide a faixa texas Louisiana com Buddy Guy, firme e forte aos 86 anos. E Ally Venable, mesmo se não tocasse muito, ainda é tem um vozeirão. Joe Bonamassa é outro convidado do disco, na faixa Broken & Blue, um soul. A bem da verdade, Real Gone não é estritamente um álbum de blues. Loose me é um funk mais compassado, com a moça dando um banho de guitarra, em solos sem firulas, só toca o que a música pede. Real Gone é uma ótima pedida para quem ainda aprecia guitarras, o blues e seus derivados.
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