Nesse sábado, 1º de abril, a partir das 14h, vai rolar tarde de autógrafos na Passa Disco (Rua da Hora, 345, Espinheiro), do álbum Quem Mandou Chamar???, do cantor e compositor Jader, sua estreia solo. Mas não sua estreia em discos, ele o que já fez com os grupos Projeto Sal e o Mulungu. O álbum está circulando nas plataformas de streaming, mas com edição em CD.
Jáder assina todas as dez canções do disco (três em parcerias), músicas curtas, que somam 29 minutos e 23 segundos. Há ainda um interlúdio de 15 segundos, Butano pra Descer, creditado a Guilherme Assis e Riquelme. A capa do CD (projeto gráfico de Gabriel Furmiga) passa a impressão de que seja um álbum de rock pesado, ou mesmo metal.
Mas o conteúdo é ainda mais fora da curva, para empregar uma expressão que já foi mais usada, por ser escorregadio para que se lhe afixem rótulos. Numa entrevista de Jader a EBC, o apresentador do programa coloca Quem Mandou Chamar??? na prateleira do forró. O próprio cantor até admite que faça forró. A nomenclatura, a partir do surgimento das bandas cearenses no final dos anos 80, distanciou-se do estilo gonzagueano.
Jader é de uma geração que pratica o pop. Canções para dançar ou curtir sem que passem necesseriamente uma mensagem política, de resiliência, este termo tão em uso, e afins. Aliás, a música popular, em sua maioria, servia para divertir e entreter até o advento, a partir de 1965, da MPB universitária, engajada, da era dos festivais. Natural, o país estava no primeiro dos 21 anos da ditadura militar.
Apesar dos percalços dos últimos quatro anos, a música pop pode trazer ou não mensagens, política, sociais, de gênero, mas é diversão que o pessoal quer. Assim como não supervaloriza a mensagem, Jader tampouco se incomoda que sua música trafegue pelo que se trata como brega. Ratifica neste disco que o brega é relativo. Agnaldo Timóteo não entendia o motivo de ser taxado de brega porque cantava Beatles ou Charles Aznavour. Não é a canção, nem o autor da canção, é a roupagem que lhe é dada que define o nicho em que vai ser encaixada.
Eu Digo Não, faixa que abre o disco (com Guilherme Assis), é um piseiro, ou talvez sertanejo, mas o arranjo, cerzido pela sanfona de Karol Maciel, a letra bem construída, a voz afinada e contida de Jader, sem os excessos de vibrato dos cantores popularescos, torna a canção palatável tanto para os consumidores da MPB quanto aos que curtem o piseiro. A faixa que dá título ao álbum tem levada do forró das bandas. Aliás, a letra situa-se no São João, com citações ao Pátio do Povo (o maior da festa em Campina Grande), e a Rua da Má Fama, epicentro da zoeira em Caruaru.
Em sua salada de ritmos, Jader canta até o pé-de-serra, no xote Emoji de Beijos, uma das melhores faixas do disco. Não por se voltar às raízes, mas por ser um xote romântico, e bem humorado, com uma letra que emprega termos do glossário da Internet. A faixa emenda com outro forró, também um xote, com viés cearense, mas com arranjo sofisticado, que tem o synth de Guilherme Assis e a guitarra de Barro, que assinam a produção acertada do disco, masterizado, na Flórida, pelo calejado Carlos Freitas.
Jader tem uma formação musical que o impede de cair para a vulgaridade e o lugar comum. Embora as letras sejam românticas, não há obviedades nas dez canções. Há delas que pegam fácil, como é o caso de Pele com Pele, com uma levada meio caribenha meio paraense.
Quem Mandou Chamar??? é uma coleção de canções, com ritmos populares, de qualidades musical e sonora louváveis, com participações de intérpretes e instrumentistas, a maioria, da geração de Jader. Cantam com ele Johnny Hooker (em Larga Esse Boy), Jessica Caitano (em Te Dar), Uana (em Falso Encanto). E com Jader tocam: Karol Maciel (sanfona), Cosme (sanfona), Guilherme Assis (programação, baixo e guitarra), Carlos Filizola (guitarra), Barro (guitarra), Kleber Nascimento (bateria), Ian Medeiros (bateria), Henrique Albino (saxofone).
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