Para que entendam porque Bossa nova, meu bem, e não Frevo,, meu bem, título da coluna dominical deste blog. A matéria é sobre o cantor, violonista e compositor recifense Normando Marques dos Santos. Ele é uma espécie de enigma em fotos clássicas dos primórdios da bossa nova. Poucos sabem de quem se trata, muitos não se lembram mais dele. Aos 90 anos (completa 91 em outubro), está escrevendo um livro de memórias, um elo perdido da BN. Na foto que ilustra o texto, Normando Santos é o de camisa escura, com o violão, entre Sérgio Ricardo e Tom Jobim.
O gênero (na verdade uma variante cool do samba) surgiu não apenas em reuniões de compositores, intérpretes, instrumentistas, mas também nas aulas de violão, nas quais muita gente aprendeu as harmonias complexas da BN. Como principais professores são citados apenas Carlinhos Lyra e Roberto Menescal. Esquecem de um terceiro, Normando Santos, que foi professor de, entre outros, Nelson Motta, e a atriz Betty Faria. Normando dividiu apartamento com João Gilberto, foi parceiro de Vinicius de Moraes, Lula Freire, ou Ronaldo Bôscoli. Participou dos principais eventos da BN de final dos anos 50 a inicio dos 60. Esteve inclusive no concerto de BN no Carnegie hall em 1962. Em 1966 foi para Paris, e só voltou ao Brasil para visitar a família. Motivo de quase não ser citado nos livros sobre BN.
Se historiadores da MPB o ignoram, o que dizer dos conterrâneos? Normando Santos é totalmente desconhecido pelas autoridades competentes do Recife ou Olinda (onde também morou). Não apenas por estas, mas igualmente pelos músicos pernambucanos. De vez em quando conversamos pelo Messenger, ou trocamos e-mail. Normando me mandou trechos curtos da autobiografia, e um resumo de sua trajetória, que reproduzo em parte abaixo:
“Tudo começou quando fui cantar na Rádio Jornal do Comércio.
Minha mãe não gostava de ter um filho cantor de rádio; dizia que isso não era futuro pra ninguém e que cantar e tocar violão eram sinônimos de boêmia. Aí eu prometi não mais cantar em rádio se ela me deixasse ir morar no Rio de Janeiro. Cumpri minha promessa e mais tarde só cantei na televisão…
Voltei realmente a cantar e tocar violão sem parar, quando encontrei Roberto Menescal, que estudava na mesma classe que eu, no curso noturno do colégio Mallet Soares em Copacabana. Quando Roberto descobriu que eu cantava ficamos muito amigos e me levou à casa da Nara Leão onde conheci Ronaldo Bôscoli e Chico Feitosa.
Logo depois encontrei Carlinhos Lyra na casa da minha primeira aluna de violão e depois João Gilberto, Antonio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes, Luiz Eça, Sérgio Mendes, Baden Powell, Oscar Castro Neves, Rosinha de Valença, Eumir Deodato (que me ensinou a escrever música), Sérgio Ricardo… e cada vez o grupo ia se tornando maior. Desde aí passamos a nos ver com frequência. Nessa época nunca poderíamos imaginar que desses encontros estava se formando o embrião do maior movimento da música popular brasileira, que ganharia o mundo inteiro, e que se chamaria: ”A Bossa Nova”.
No princípio houve uma grande resistência dos compositores já consagrados por causa do nome bossa nova; eles não criticavam nossa música, mas era insuportável pensar que eles sendo mais velhos, seriam da bossa velha ou arcaica. Não sei que nome teria o nosso movimento, se um aluno não tivesse escrito num quadro-negro: ‘Grande show com o Grupo da Bossa Nova’.
A partir do show, que se chamou ‘O amor, o sorriso e a flor’ na Faculdade de Arquitetura, a Bossa Nova nasceu e a Mídia começou a se interessar por nossa turma. Não só a música unia certo número entre nós, havia também a paixão pela pesca submarina, que era um motivo a mais para que estivéssemos sempre juntos nos fins de semana ou em qualquer outra oportunidade. Menescal foi o primeiro a praticar esse esporte e foi graça a ele que Chico Feitosa, Ronaldo Bôscoli, Nara, Luis Carlos Vinhas e eu, todas as sextas-feiras, partíamos na direção de qualquer lugar onde pudéssemos pescar. Alugamos mesmo uma casa em Rio das Ostras para nossos fins de semana de mergulho.
Carlos Lyra, Roberto Menescal e eu, éramos os principais professores de violão da Bossa Nova. Eu tinha 50 alunos, três pela manhã e sete à tarde. Dava aula de segunda à sexta-feira, 45 minutos cada aula e uma vez por semana para cada aluno. Com a Bossa Nova o violão tomou o lugar do acordeom e até mesmo do piano. O interesse pelo violão foi fenomenal e o desinteresse pelo acordeom foi igualmente enorme. Meus alunos mais conhecidos foram: Betty Faria, hoje uma famosa atriz de novela, Odete Lara atriz de cinema, Nelson Motta jornalista, escritor e autor muito conhecido e Paulo Marinho filho do fundador da TV Globo que quando pequeno teve algumas aulas comigo”
Qual o motivo dele nã ser citado nos livros, nas entrevistas?
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desconhecimento, esquecimento. Mora na frança desde 1966, e raramente fez show no Brasil desde então
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Movimento rico de letristas e musicistas. Sempre será lembrado como o Movimento mais refinado da música brasileira. Parabéns por resgatar esse fenomenal funddador, com outros, é claro, desse espetáculo que foi e é a Bossa Nova.
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pois é, e no brasil há quem esnobe por ser antiga
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valeu, natanael
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