Num grupo de literatura de que faço parte, embora participe pouco, por falta de tempo, li um texto interessante sobre palavras que somem, caem em desuso. Já escrevi crônicas sobre o tema. No tempo em que fazia o semanário de humor Papa-Figo com Ral e Bione costumava trazer de volta palavras fora de linha. Rapariga foi uma dessas. Lá pela segunda metade dos anos 80 tornara-se um arcaísmo. Graças ao Papa-Figo, rapariga voltou a ser usada.
Tentei o “varêi”, expressão equivalente a pqp ou krai. Não pegou. Talvez por ser usada mais na Paraíba. A Internet leva com rapidez expressões do Sudeste pras demais regiões. Vi agorinha um reclame de entrega de cestinhas de brebotes e refeições. A moça do anúncio garante que um dos pratos “serve quatro pessoas”. Aqui em Pernambuco se dizia: “Dá pra quatro pesoas”.
Pode-se saber a que geração pertence uma pessoa por um tipo de queijo. Se tiver de 50 pra baixo diz “queijo coalho”. A partir dos 60 chama “queijo de coalho”. Os abaixo dos 40 falam “de boa”. Os com mais idade dizem “numa boa”
Certas palavras e expressões me surpreendem. Uma dessas é “Putz”, com mais de 50 anos. Pouca gente sabe a origem. É o mesmo que puta que o pariu. Putz vem de putzgrila, expressão criada pelo cartunista Henfil, em O Pasquim. Com censura prévia não se podia publicar palavrões no jornal, então o pessoal se valia do genérico do baixo calão. Ziraldo também criou genéricos que a geração wyz usa sem nem ter ideia de quem seja ele. Mifo é sifo são de Ziraldo, que conjugou todo o verbo mifo, tifo, nosfo etc. Henfil também driblou a censura, com o “cacilda”, genérico de “cacete”. O top top, que virou título de música dos Mutantes, também é dele, onomatopeia do som de uma mão espalmada batendo noutra mão fechada, é o mesmo que mifo ou sifo.
A título de curiosidade. Durante algum tempo, quando veio a censura prévia, um general dava expediente na redação de O Pasquim, para conferir antecipadamente o que pretendiam publicar, e vetar ou não. Esse General, putzgrila, era pai de Helô Pinheiro, a adolescente que inspirou Garota de Ipanema, de Tom e Vinicius. Cacilda!!
Crônica do domingo: Putz é expressão criada por Henfil, em O Pasquim, no auge da ditadura. E onde entra o pai da garota de Ipanema na história?

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