Fui atraído a este disco pela capa (em foto de Elisa Maciel). O título é Descese, com selo PWR Records. A artista chama-se Tori, ou Vitória Nogueira, sergipana, de Aracaju, que integrou uma banda pop, a Ipásia. Um típico disco da geração conectada. Foi antecipado com o lançamento do lado A, depois do lado B. O álbum na íntegra chegou às plataformas em janeiro.
As canções nasceram durante a pandemia, os contatos da cantora com parte das pessoas que trabalharam com ela no projeto, incluindo os produtores Bem Gil, Domenico Lancelotti e Bruno de Lullo, três nomes consagrados do novo quadro da produção musical brasileira.
Alguns dos convidados e parceiros também entraram no disco via mídias sociais, caso do alagoano Bruno Berle, conhecido pelo álbum No Reino dos Afetos, que ele lançou em de 2022. Tori entrou em contato com ele pelo Instagram, e só se conheceram pessoalmente depois do disco pronto. O mesmo aconteceu com Domenico Lancelotti, em troca de mensagens tornaram-se amigos e parceiros pelo whatsapp. Os amigos da Ipásia, Alexandre Damasceno, Beatriz Linhares, Júlia Sízan e Ricardo Ramos. O álbum tem ainda as vozes de Joana Queiroz, Tainá, Dora Morelenbaum e Julia Mestre.
Aracaju tem um problema geográfico. Fica muito perto de Salvador e muito longe do Rio ou São Paulo. Sua cena musical acaba sendo vítima da localização do estado. Muitas bandas nascem e morrem sem chance de mostrar sua música em outras paragens. Uma das poucas a chegar a outros estados, com idas à Europa, Canadá e EUA, com destaque foi The Baggios (tocou no Rec-Beat em 2017). O grupo completa 20 anos em 2024.
Tori é precavida. Mudou-se para o Rio. Com 22 anos, ela está apenas começando.
Sua música neste disco é intimista, reflexiva, teve influência da época de isolamento na qual parte das canções foi criada, mas não é melancólica. Em algumas faixas é meio bossa-nova e rock and roll, caso de Hybris, com um belo arranjo, e uma letra cujos versos lembram hai-kais: “Habitar um corpo/receber alguns/fruição/calor/carinho”
Tori faz pop de câmera, para ambientes fechados, teatro. Sua música é muito pessoal, confessional, não se ocupa das pautas da vez, gênero, feminismo, raça, política, nem incursiona por funk, rap, brega, tendências sonoras.
Um clima onírico permeia o disco, com melodias consistentes, que pedem atenção. Tem canção com título em latim, Dies Irae (“Ah, quanta confusão/ eu não pedi pra nascer, neste dia de verão”). Ou normose, um termo usado, grosso modo para definir alguém excessivamente normal: “Eu teno medo/de olhar pra trás/não sei mais o que é normal”. A forma como ela canta, como a voz foi trabalhada pela produção, sem variar muito de modulações, nem subir o tom, o violão de Bem Gil quase o tempo inteiro destacando-se entre os instrumentos, lembra a suavidade de uma brisa. Há exceções, como é o caso do samba Travessias Maiores, em que se sobressai a bateria de Domenino Lancelotti. Na faixa final, com o parceiro João Mário, o canto no início é quase murmurado.
Mais uma que desconhecia,a sonoridade da faixa é agradável.
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